Stephen R. Anderson
O objeto de investigação em linguística é a linguagem humana, em particular a extensão e os limites da diversidade nas línguas faladas no mundo. Supõe-se, portanto, que os linguistas teriam uma noção clara e razoavelmente precisa de quantas línguas existem no mundo.
Acontece, no entanto, que não há tal contagem definida -
ou pelo menos, nenhuma contagem que tenha qualquer status científico
da linguística
moderna.
A
razão para esta falta não é (apenas) que partes do mundo, como as terras altas da
Nova Guiné ou as florestas da Amazônia, não tenham sido exploradas
com detalhes suficientes para determinar a variedade de pessoas que
vivem por lá. Em vez disso, o problema é que a própria noção de
enumerar idiomas é muito mais complicada do que parece.
Há uma
série de respostas coerentes (mas bem diferentes) que os linguistas
podem dar a essa pergunta aparentemente simples.
Mais do que você possa ter imaginado!
Quando
se pergunta às pessoas quantas línguas pensam existir no mundo, as
respostas variam um pouco. Uma amostra aleatória de nova-iorquinos,
por exemplo, resultou em respostas como "provavelmente várias
centenas". Mesmo optando por contá-las, isso não chegou nem
próximo.
Quando
analisamos os trabalhos de referência, encontramos estimativas que
aumentaram com o passar do tempo. A edição de 1911 (a 11ª) da
Enciclopédia Britânica, por exemplo, traz um cálculo em torno de
1.000, número que subiu constantemente ao longo do século XX. Isso
não é devido a qualquer aumento no número de idiomas, mas sim ao
nosso maior entendimento de quantas línguas são realmente faladas
em áreas que haviam sido subavaliadas anteriormente.
Muito
trabalho pioneiro na documentação das línguas do mundo tem sido
feito por organizações missionárias (tais como o Instituto
Summer de Linguística,
agora conhecido como SIL International) pelo interesse em traduzir a bíblia cristã. Desde 2009, ao menos uma parte da bíblia foi
traduzida para 2.508 idiomas diferentes, e ainda muito longe da
cobertura total. O catálogo mais abrangente das línguas do mundo,
geralmente considerado tão confiável quanto qualquer outro, é o
Ethnologue (publicado
pela SIL International), cuja detalhada lista classifica, a partir de
2009, 6.909
idiomas distintos.
Você
sabia que a maioria das línguas pertencem a uma família?
Uma família é um
grupo de idiomas cujo relacionamento genético entre si pode ser
comprovado.
As línguas mais conhecidas são as da família indo-européia, à
qual pertence o inglês.
Considerando o quão amplamente as línguas
indo-europeias são distribuídas geograficamente, e a sua influência
nos assuntos mundiais, pode-se supor que uma significativa quantidade
de línguas do mundo pertencem a essa família. Mas não é assim: existem cerca de 200 línguas indo-europeias, e mesmo
ignorando os muitos casos em que a afiliação genética de uma
língua não pode ser claramente determinada, há indubitavelmente
mais famílias de línguas (cerca de 250) do que membros da família
indo-européia.
As
línguas não são uniformemente distribuídas por todo o mundo.
Assim como alguns lugares são mais diversos
do
que outros em termos de espécies vegetais e animais, o mesmo vale
para a distribuição das linguagens. Das 6.909 do Ethnologue, por
exemplo, apenas 230 são faladas na Europa, enquanto que na Ásia o
número é de 2.197.
Uma
área de diversidade linguística particularmente alta é Papua-Nova
Guiné, onde são estimadas 832 línguas faladas por uma população
de cerca de 3,9 milhões. Isso faz com que o número médio de
falantes oscile em torno de 4.500, possivelmente o menor de qualquer
área do mundo. Essas línguas pertencem a cerca de 40 a 50 famílias
distintas.
É claro que o número de famílias pode mudar à medida
que o nível de escolaridade melhore, mas há poucas razões para
acreditar que esses cálculos não estejam precisos.
Não encontramos diversidade linguística apenas em lugares tão
distantes. Séculos de governos franceses se esforçaram para tornar
esse país linguisticamente uniforme, mas (mesmo desconsiderando o
bretão, um idioma celta; o Allemannisch, a língua germânica falada
na Alsácia; e o basco), o Ethnologue mostra pelo menos dez línguas
românicas distintas faladas na França, incluindo Picard, Gascon,
Provençal e vários outros, além do "francês."
Multilinguismo na
América do Norte é geralmente discutido (além do status de francês
no Canadá) em termos de inglês versus espanhol, ou as línguas de
populações imigrantes como cantonês ou khmer, mas devemos lembrar
que as Américas eram uma região com muitas línguas bem antes que
os europeus ou asiáticos modernos chegassem.
Nos tempos pré-contato,
mais de 300 idiomas eram falados na América do Norte. Destes, cerca
de metade desapareceram completamente. Tudo o que sabemos sobre eles
vem de listas de palavras antigas ou registros gramaticais e textuais
limitados.
Mas isso ainda deixa cerca de 165 línguas indígenas da
América do Norte, ainda faladas por certa quantidade de pessoas.
Avançando
além das principais linguagens do poder econômico e político,
como o Inglês,
o chinês mandarim, o espanhol e mais algumas, com milhões de
falantes cada uma, em todos os lugares para os quais olharmos no
mundo encontraremos um grande número de outras, pertencentes a
muitas famílias geneticamente distintas. Mas seja qual for o grau
dessa diversidade (e discutiremos abaixo o problema de como
quantificá-la), o certo é que uma proporção surpreendente das
línguas do mundo está de fato desaparecendo - mesmo quando
ainda faladas.
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