terça-feira, 18 de dezembro de 2018

O que os linguistas sabem que as outras pessoas nem desconfiam?


O que os linguistas sabem que outras pessoas não sabem.

Translated from original at / Traduzido do original em:

https://ahtaitay.blogspot.com/2018/01/what-linguists-know-that-other-people_28.html?fbclid=IwAR3f2UqnubGo9IR39-BPNK1XEe9Ft38PrGk9PafWLJuMqVZXYyEYuboWnk4

Ser um linguista, ou um estudante avançado de linguística, é um privilégio sob muitos aspectos. À medida que você analisa a linguagem e a fala cotidiana, começa a perceber que há uma admirável quantidade de maravilhas nesse sistema que tomamos como certas. Os linguistas questionam o óbvio, o que é a linguagem, e obtiveram respostas que mudaram para sempre a compreensão da língua e da natureza humana. Eles também nos conscientizaram de muitas questões relacionadas à linguagem e à atitudes que mantemos em relação a ela. Neste artigo, você verá o que os linguistas sabem que não é tão evidente, ou não aceito por outras pessoas. Vamos ver o que temos
  • Todos nós falamos uma língua.

Uma das principais descobertas da linguística moderna é ter nos conscientizado de que todas as línguas que falamos são semelhantes em aspectos surpreendentes; elas manifestam o mesmo padrão, seguem as mesmas regras, são aprendidas exatamente da mesma maneira, e todas as diferenças são apenas superficiais. Então, em certo sentido, todos nós falamos a mesma língua. Isso foi capturado por Chomsky em uma excelente metáfora do ótimo livro intitulado "Linguagem e Mente"; no qual ele diz que se um cientista marciano, alguém com um tipo diferente de inteligência, estudasse as línguas do mundo, concluiria que são todas dialetos de uma única língua, incorporando uma "gramática universal", refletindo um módulo linguístico geneticamente determinado, inerentemente ligado ao cérebro humano. Uma grande quantidade de teorias, suportadas por uma enorme base de evidências oriundas de linguagens topologicamente diferentes, concordam que esse é realmente o caso. Vou mencionar, de passagem, um dos principais argumentos usados ​​para provar isso. Leve uma criança que nasceu na China, e a faça crescer na Arábia Saudita, ela crescerá falando árabe. O que isso significa? Significa que uma criança humana é programada para aprender qualquer idioma e que todas as línguas humanas, como mandarim e árabe, neste caso, são fundamentalmente as mesmas, se não fossem, a tarefa de aprender outra linguagem seria impossível. Isto tem implicações enormes, a maior das quais é que todas as 7000 línguas humanas têm a mesma fonte e que todas as línguas faladas hoje evoluíram da mesma grande-grande... grande língua ancestral, a primeira língua do homo sapiens. Outra implicação é que se um marciano passasse voando pelo nosso planeta, ele ouviria japonês e ojibwe do mesmo modo como nós ouvimos inglês britânico e americano. Esta é uma linha interessante de pensamento, se você quiser ler mais sobre isso, tenho um bom livro para recomendar. Chama-se Gramática Universal de Chomsky: Uma Introdução. Encontre-o [aqui].
  • As mudanças no idioma são naturais:

As pessoas tentam combater mudanças na linguagem e se assustam com elas. Os linguistas sabem que a mudança espontânea na linguagem não é ruim. Adotar palavras de outras línguas, perder inflexão, casos, gêneros, artigos e sons anteriormente distintos...Isso acontece em todos os idiomas e não é nada preocupante. Para um linguista, é um fenômeno interessante, e que vale a pena analisar. Para algumas pessoas é a prova do fim da linguagem, do fim da cultura civilizada e do início da morte da linguagem apropriada. Mas as línguas mudam constantemente, e certamente não é assim que morrem.

Muitas pessoas temem mudanças na linguagem. Muitos pensam que, se não tentarmos regular o modo "correto" de falar - da ortografia à pronúncia e à escolha das palavras -, todos mergulharemos na anarquia ou em algum outro infortúnio. É tudo uma farsa. A linguagem evolui constantemente, e até mesmo as elites político-culturais que afirmam usá-la "corretamente", deixam de fazê-lo; por isso que encontramos divisões de infinitivos em escritos proferidos pela Suprema Corte dos EUA, por exemplo. (E mesmo aqueles que se consideram guardiões do MODO CORRETO DE SE EXPRESSAR, não podem sequer concordar se os infinitivos divididos são legítimos). Sociedades aparecem e somem, mas não porque as pessoas começaram a dizer "né", quando deveriam ter dito "não é."
  • Não há gramáticas ruins:


Uma das coisas que você percebe ao começar a estudar idiomas é o quão estúpidas são as afirmações de que existem gramáticas ruins. Os linguistas sabem que todos os dialetos, mesmo aqueles considerados de "gramática ruim" por muitas pessoas, são tão formatados e limitados quanto qualquer outra língua. Alguém que usa o dialeto dos Apalaches ou o inglês vernáculo afro-americano (para usar dois exemplos dos EUA), não é simplesmente um ignorante das regras gramaticais ensinadas na escola, ou um orador "desleixado." Apenas seguem um conjunto diferente de regras, que são consistentes dentro de seu próprio dialeto. Às vezes, a complexidade linguística das línguas associadas a sociedades menos favorecidas, e que chamamos de gramáticas ruins, excede em muito a das sociedades modernas e privilegiadas. William Labov, de fato, analisou o inglês vernáculo afro-americano e nos mostrou a beleza dessa linguagem, de uma estrutura sofisticada e possuidora de muitos recursos inexistentes no inglês padrão. Leia mais sobre isso no próprio livro de Labov, intitulado Language in the inner city: Studies in the Black English Vernacular. Você pode obtê-lo [aqui].
  • Existem linguistas monolíngues:

Eu não sei como enfatizar isso ainda mais. Ser linguista não é igual a ser poliglota. Embora seja verdade que os linguistas estudam todas as línguas, isso não significa que se envolvam em aprendê-las. Apenas as estudam para testar certas hipóteses relacionadas ao funcionamento da linguagem. Os linguistas sabem que existem os monolíngues, alguns até desaconselham o aprendizado de idiomas. É sério, as pessoas deveriam parar de usar "linguista" e "poliglota" ou "amante da linguagem" como sinônimos. A maneira mais certa de incomodar um linguista é perguntar: "quantas línguas você fala?" Leia sobre o que os linguistas fazem [aqui].
  • A linguagem é fractal:

Os linguistas sabem que não se pode descrever totalmente qualquer uma das linguagens humanas. Parece impossível produzir regras suficientes para descrever completamente qualquer linguagem natural. Você sempre encontrará expressões válidas que as regras proíbem, e expressões inválidas que as regras permitem. (Isso é o que queremos dizer quando afirmamos : "todas as gramáticas têm furos.") É claro que você pode criar novas regras para cobrir essas exceções, mas muitas equipes passaram décadas nisso e não conseguiram tapar todos os buracos - apesar de criarem dezenas de milhares de regras. Esta é uma das razões pelas quais os linguistas têm dificuldade em levar os "prescritivistas" gramaticais a sério; sabemos que nenhuma descrição de gramática, pequena o suficiente para caber em um único volume, pode ser mais do que um conjunto de diretrizes.
  • A inserção do Fucking é sistemática:

os linguistas sabem que o processo de infixar o Fucking para enfatizar uma palavra é sistemático. Fucking sempre vai antes da sílaba tônica primária em uma palavra. Qualquer outra coisa soa errada:

fan-fucking-tàstic, e não fantà-fucking-stic

abso-fucking-lùtely, não ab-fucking-solùtely

hippo-fucking-pòtamus, não hi-fucking-ppopòtamus ou hippopò-fucking-tomus.

Phila-fuckin-delphia
e qualquer outra coisa está errada.
  • Monoglotas podem se tornar poliglotas:

Os linguistas sabem que todos que falam uma língua podem aprender as outras, caso queiram. A matemática por trás da linguística (por exemplo, a Teoria dos Autômatos e a hierarquia das línguas de Chomsky ) indicam que uma quantidade espantosa de inteligência é necessária para se tornar um monoglota. Quanto mais estudamos a linguística computacional e a teoria dos autômatos, mais compreendemos isso.

A máquina teórica mais simples que poderia analisar com precisão uma linguagem humana e mapear os significados seria incrivelmente complexa. Surpreendentemente, o grau de complexidade que se deve adicionar para analisar uma segunda língua é quase insignificante. Em outras palavras, não há diferença real na inteligência necessária para se tornar um monoglota ou poliglota.

As diferenças percebidas em termos de dificuldades têm mais a ver com a aprendizagem na fase adulta versus fase criança (durante o período crítico), e com o prazer em aprender e vontade de trabalhar.

Tenho certeza de que os linguistas sabem muito mais do que pode ser dito em um post de blog. Os linguistas mudaram nossas percepções sobre a linguagem, mudaram a maneira como consideramos as línguas das minorias e, o mais importante, os linguistas nos tornaram conscientes de que nenhuma língua é inferior. Junte-se ao movimento para reconhecer os esforços dos linguistas, assinando por e-mail e compartilhando o artigo. Muito obrigado pela leitura. Nos veremos no meu próximo artigo.

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Efeitos do bilinguismo sobre o cérebro

Bilingual Effects in the Brain / O efeito bilíngue no cérebro

Translated from original in english at:

https://www.nih.gov/news-events/nih-research-matters/bilingual-effects-brain

 Bilingual Effects in the Brain / O efeito bilíngue no cérebro

Um novo estudo descobriu que certas funções cerebrais são aprimoradas em adolescentes fluentes em mais de um idioma. A descoberta nos dá uma nova visão de como os sentidos ajudam a moldar o cérebro.

Cerca de uma em cada cinco crianças em todo o país fala uma língua diferente do inglês em casa. As crianças que crescem aprendendo a falar 2 idiomas tendem a aprender palavras inglesas e gramatica mais lentamente do que aquelas que falam apenas o inglês. Mas estudos descobriram que crianças bilíngues tendem a ser melhores em multitarefas do que crianças monolíngues. Elas também são melhores em focar a atenção - por exemplo, em determinada voz dentro de uma cafeteria barulhenta da escola.

A Dra. Nina Kraus e seus colegas da Northwestern University têm empregado eletrodos de cabeça para analisar a atividade nos circuitos cerebrais que processam sons complexos (chamada de resposta auditiva do tronco cerebral). Eles notaram que os músicos mostram vantagens de atenção e memória semelhantes às vistas em bilíngues. Em trabalhos anteriores, os pesquisadores descobriram que os músicos aprimoraram as respostas auditivas do tronco encefálico ao tempo e às harmônicas do som. Os cientistas decidiram testar se adolescentes bilíngues, cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento, também mostrariam uma resposta melhorada a sons complexos.

Os pesquisadores estudaram 48 alunos do primeiro ano do ensino médio, 23 dos quais eram proficientes em espanhol e inglês. Os demais eram proficientes apenas em inglês. O estudo foi financiado pelo Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (NICHD) Eunice Kennedy Shriver. Os resultados apareceram na edição on-line antecipada de 30 de abril de 2012 dos Anais da Academia Nacional de Ciências.

Os pesquisadores tocaram a sílaba “da” para os adolescentes, usando eletrodos para registrar a intensidade de sua resposta auditiva do tronco encefálico. Os bilíngues mostraram uma resposta maior que os monolíngues. Quando o som foi tocado em meio a um fundo ruidoso, os adolescentes monolíngues tiveram uma resposta menos intensa do que quando não havia ruídos no ambiente. Em contraste, os bilíngues mostraram respostas praticamente idênticas, com e sem a balburdia ao fundo.

Em outro experimento, os adolescentes receberam um teste de atenção seletiva no qual foram solicitados a clicar em um mouse quando o número 1, mas não o 2, fosse visto ou ouvido. O teste envolveu 500 tentativas de 1 ou 2 segundos cada, durante um período de 20 minutos. Os adolescentes bilíngues superaram os colegas monolíngues nesse teste.

Os pesquisadores, então, compararam os resultados dos dois conjuntos de experimentos. Entre os adolescentes bilíngues, a intensidade da resposta auditiva do tronco encefálico durante o teste de balburdia, correlacionou-se com os escores dos testes de atenção. Em contraste, não houve correlação entre os adolescentes monolíngues. Esses resultados sugerem que a experiência bilíngue pode ajudar a melhorar a atenção seletiva, reforçando a resposta auditiva do tronco encefálico.

O bilinguismo serve como enriquecimento para o cérebro, e tem consequências reais quando se trata da função executiva, especificamente atenção e memória de trabalho”, diz Kraus. A equipe planeja explorar se aprender uma língua mais tarde na vida pode trazer benefícios semelhantes.

"O bilíngue manipula a informação linguística e, ao que tudo indica, automaticamente presta mais atenção aos sons relevantes versus irrelevantes", diz o membro da equipe, Dr. Viorica Marian.

“Em vez de promover a confusão linguística, o bilinguismo promove um melhor 'controle inibitório', ou a habilidade de escolher sons de fala relevantes e ignorar os outros.”

-por Harrison Wein, Ph.D.

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