segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Como os livros podem competir com as poderosas distrações digitais?




Continuação da postagem de 17.12.2018 - O poderoso bombardeio digital que interfere em nossas atividades diárias.

Como os livros podem competir?

Agradando-nos à morte

Há um famoso estudo com ratos cujos cérebros foram ligados a eletrodos. Quando os ratos pressionavam uma alavanca, uma pequena carga era liberada em parte do cérebro, estimulando a liberação de dopamina. Uma alavanca de prazer .
Podendo escolher entre alimentos e dopamina, eles optaram pela dopamina, muitas vezes até o ponto de exaustão e fome. Preferiam a dopamina ao sexo. Alguns estudos registraram ratos pressionando a alavanca de dopamina 700 vezes em uma hora.
Nós fazemos a mesma coisa com o nosso e-mail. Atualizar. Atualizar.

Não há nenhum universo lindo do outro lado do botão de atualização de e-mail e, ainda assim, é a atração por esse botão que continua me afastando do trabalho que estou fazendo, de ler livros que quero ler.

Por que os livros são importantes?

Quando reflito sobre a minha vida, posso definir um conjunto de livros que me moldaram - intelectualmente, emocionalmente e espiritualmente. Os livros sempre foram uma fuga, uma experiência de aprendizado, um salvador, mas além disso, mais do que isso, certos livros se tornaram, ao longo do tempo, uma espécie de cola que une minha compreensão do mundo. Penso neles como nós de conhecimento e emoção, nós que unem o tecido do qual sou feito. Livros, pelo menos para mim, conseguem a proeza de me manter coeso.
Os livros, diferente da arte visual, da música, do rádio, e até do amor, nos forçam a caminhar através dos pensamentos de terceiros, uma palavra por vez, ao longo de horas, por dias. Durante essa travessia compartilhamos nossas mentes com a do escritor. Há uma lentidão, uma reflexão forçada exigida por esse meio que é único. Os livros recriam os pensamentos de outras pessoas dentro de nossas próprias mentes, e talvez seja esse mapeamento tão íntimo das palavras de outro alguém, que por conta própria, sem estímulos externos, dão poder aos livros. Os livros nos forçam a deixar que os pensamentos de outros habitem em nossas mentes, completamente.
Não são apenas transferidores de conhecimento e emoção, mas um tipo especial de instrumento com o poder de transformar o eu atual em outro eu, que permite a experimentação de ideias e emoções estrangeiras.
Essa supressão do eu também é uma espécie de meditação - e, embora os livros sempre tenham sido importantes para mim por si mesmos (pré-digitais), começou a me ocorrer que “aprender de novo a ler livros” pode ser uma maneira de começar a livrar minha mente desses detritos digitais encharcados de dopamina, essa lavagem sem sentido da informação digital, e teria um duplo benefício: eu estaria lendo livros de novo, e voltaria a recuperar a minha mente.
E existem, geralmente, belos universos a serem encontrados do outro lado da capa de um livro.

Os problemas com as coisas digitais

A neurociência moderna confirma muitas das coisas que nós, sofredores da sobrecarga digital, conhecemos na prática, e muito. Essa multitarefa de sucesso é um mito. A tal da "Multitarefa" nos torna mais estúpidos. Segundo o psicólogo Glenn Wilson, as perdas cognitivas por causa da multitarefa são equivalentes ao hábito de fumar maconha. (ATUALIZAÇÃO: agradeço à Liza Daly por apontar que Glenn Wilson declarou publicamente que o estudo era parte de um programa pago de relações públicas, e foi deturpado na mídia. Veja: http://www.drglennwilson.com/Infomania_experiment_for_HP.doc)
Isso é ruim por muitas razões: nos torna menos eficientes no trabalho, o que significa que temos menos a fazer, ou temos menos tempo para gastar fazendo outras coisas, ou ambos.
Estar em uma situação na qual você tem que se concentrar em uma tarefa, e um e-mail não está lido na sua caixa de entrada, pode reduzir seu QI efetivo em 10 pontos. (A mente organizada, por Daniel J Levitin)
É pior do que isso, porque o constante saltar de uma coisa para outra também é desgastante.
Meus dias menos produtivos, os dias que passo a maior parte do tempo pulando entre projetos, e-mails, o Twitter e qualquer outra coisa, também são os dias mais exaustivos. Eu costumava pensar que minha exaustão foi a causa dessa falta de foco, mas o oposto pode ser verdade.
Gasta-se mais energia ao desviar sua atenção de tarefa para tarefa. Demanda menos energia se concentrar. Isso significa que as pessoas que organizam seu tempo de uma maneira que lhes permita se concentrar, não apenas farão mais, mas estarão menos cansadas e menos neuro-quimicamente esgotadas depois de fazê-lo. (A mente organizada, por Daniel J Levitin)

O problema definido

E assim, o problema é, mais ou menos, identificado:
  1. Eu não posso ler livros, pois o meu cérebro foi treinado para querer constantemente doses de dopamina que, por sua vez, são fornecida pelas interrupções digitais.
  2. Este vício de dopamina digital significa que tenho dificuldade em me concentrar: em livros, trabalho, família e amigos
Problema identificado, ou a maior parte dele. Existe mais.

Ah, e não se esqueça da televisão

Vivemos em uma idade de ouro da televisão, não há dúvida. As coisas que estão sendo produzidas nos dias de hoje são muito boas. E há muito disso.
Nos últimos dois anos, minha rotina noturna tem sido uma variação de: chegar em casa, vindo do trabalho, exausto. Certificar-me de que as garotas comeram. Certificar-me de que eu mesmo coma. Levar as meninas para a cama. Sentir a exaustão. Ligar o computador para assistir alguma coisa da nova era dourada da televisão. Mexer com e-mails de trabalho e, em geral, me distrair enquanto a TV da era dourada consome 57% da minha atenção. Ser ruim em assistir TV e ruim em lidar com e-mails. Ir para a cama. Tentar ler. Verificar e-mail. Tentar ler novamente. Adormecer.
Aqueles que leem são donos do mundo, e aqueles que assistem à televisão perdem-no. (Werner Herzog)
Não sei se Werner Herzog está certo, mas sei que nunca diria sobre a televisão - mesmo com as inúmeras grandes produções - o que digo sobre os livros. Não existem programas de televisão que, ao contrário dos nós, consolidem minha compreensão do mundo. Meu relacionamento com a televisão não é o mesmo que tenho com os livros.

E assim, uma mudança

E assim, a partir de janeiro, comecei a fazer algumas mudanças. As principais são:
  1. Não há mais Twitter, Facebook ou leitura de artigos durante o dia de trabalho (difícil)
  2. Nenhuma leitura de artigos aleatórios de notícias (difícil)
  3. Não há smartphones ou computadores no quarto (fácil)
  4. Nenhuma TV depois do jantar (desligadas, fácil)
  5. Em vez disso, vá direto para a cama e comece a ler um livro - geralmente em um e-reader (é fácil)
O mais chocante foi a rapidez com que minha mente se adaptou a leitura dos livros novamente. Eu esperava ter que lutar por essa concentração - mas não foi preciso fazer força. Com menos entradas digitais (sem TV pré-leito, especialmente), tempo extra (sem TV, novamente), e sem um dispositivo digital tentador à mão ... havia tempo e espaço para a minha mente se acomodar em um livro.
Que sentimento maravilhoso foi esse.
Estou lendo mais livros agora do que o fizera em anos. Tenho mais energia e foco do que tive há séculos. Ainda não dominei totalmente o meu vício em dopamina digital, mas estou chegando lá. Acho que ler livros está me ajudando a concentrar minha mente, a ter foco.
E os livros, na verdade, ainda são as mesmas coisas maravilhosas que costumavam ser. Eu posso lê-los novamente.
Os e-mails diários, no entanto, continuam sendo um problema. Se você tiver sugestões para isso, por favor me avise.
Hugh McGuire



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