Inglês
ou "Globês"?
O
QUE É MAIS IMPORTANTE: A PUREZA OU A FLEXIBILIDADE?
Por Shena Wilson
O
mundo da tradução é extraordinariamente cheio de detalhes.
Quando
pessoas que amam palavras e ideias leem uma tradução mal feita,
costumam dizer algo como: "Não basta simplesmente ser
bilíngue
para fazer traduções. "
Existem
excelentes tradutores profissionais que não têm um diploma
especifico da própria área de tradução. Muitos destes
profissionais têm extensos antecedentes em campos específicos, bem
como conhecimentos aprofundados em pelo menos dois idiomas.
Atualmente,
moro na bela e artística Paris, e vejo regularmente verdadeiras
"jóias" linguísticas em paredes e lugares públicos,
revistas, livros, propagandas, e em diversos outros locais. Variam
desde os simplesmente incorretos, grosseiros, até mesmo aos
involuntariamente gentis. São publicados e, aparentemente, alguém
foi pago para fazer a tradução. Ou vieram depois de introduzidos em
um aplicativo ou programa. E então? Quem realmente se importa? Bem,
eu sim. E não estou só.
Não
há necessidade de palavreado extravagante para produzir um aviso
dizendo que a loja estará fechada no dia tal, ou que a sobremesa do dia é
"Torta de maça", ou que Risotto de frutos do mar é "arroz
cozido demais com peixes". Nem todo dono de restaurante vai
contratar um profissional para trabalhar em algo que será usado
apenas por alguns dias.
No
entanto…
Não há como, aqui na Cidade Luz, você jogar com sucesso um croissant na rua sem atingir um anglófono nativo a caminho da Boulangerie.
E
talvez, só por acaso, essa pessoa de língua inglesa que seja
atingida pelo croissant voador, possa ser persuadida a reler o cartaz
ou o menu antes de ser disponibilizado ao público?
Em
nosso acelerado mundo de impaciência e tecnologia, parece que
algumas pessoas estão bastante satisfeitas com publicações em
Globês
(um tipo de inglês internacional simplificado). Existem vários
artigos sobre esse fenômeno linguístico, seja no Financial
Times,
The
New Yorker
e muitos outros.
E
aí, "culpamos" a má qualidade do Google Tradutor? Podemos
apontar o dedo para as agências de tradução que pagam aos
tradutores independentes o equivalente ao salário mínimo, ao mesmo
tempo em que reiteramos a doce promessa de continuar com o trabalho?
O que podemos dizer sobre a multiplicidade de sites que oferecem entrega de traduções à velocidade da luz?
Algumas
dessas agências ou empresas de "tradução super-rápida"
usam máquinas para iniciar o trabalho. Sim, a máquina é capaz de
fazer maravilhosamente as tarefas repetitivas! Adoramos evitar o
trabalho chato. Essas "empresas" geram sem culpa textos com
traduções automatizadas e, em seguida, contatam tradutores humanos
reais para arrumar a bagunça,então entregam
o produto ao cliente e recebem o pagamento devido.
Naturalmente,
consideram que o que pedem ao tradutor humano para fazer seja
"editar" ou "corrigir" a tradução, e a
baixíssima taxa oferecida por eles reflete essa consideração. No
entanto, dependendo do assunto e do estilo no documento original, a
tarefa de limpeza geralmente leva mais tempo do que fazer toda a
tradução de A para Z. Por quê? Termos e tempos verbais
mudam sutilmente de idioma para idioma, e a máquina não sabe qual
deles selecionar.
Os
tempos de verbos não são idênticos de um idioma para outro, então,
quando um robô faz o trabalho, não é apenas a gramática básica e
o "significado" que se tornam fracos, mas boa parcela da
precisão pode ser perdida com o clique de um botão.
Vejamos
um exemplo simples. Um anglófono não entende: "Ladrões têm
tomado os diamantes e o dinheiro" e "Ladrões tomaram os
diamantes e o dinheiro" como sendo exatamente a mesma mensagem.
Enquanto em francês, por exemplo, o tempo do verbo seria o mesmo e o
escritor provavelmente explicaria o atual paradeiro dos diamantes e
do dinheiro por outros meios: provavelmente adicionando palavras ou
uma frase.
Da
mesma forma, em inglês, geralmente não usamos mais o 'um' para
evitar a seleção de um pronome.
Por
exemplo: um roubou minha carteira / Alguém roubou minha carteira /
(Voz passiva) Minha carteira foi roubada.
Há
muito mais a dizer sobre o uso excessivo da voz passiva e outras
gafes que
devem ser evitadas para obter-se o que consideramos "bom
inglês". Uma máquina nem sempre consegue detectar com precisão
tais sutilezas ou, mais importante, não pode reescrever a sentença
de modo que realmente faça sentido para o leitor.
É
verdade que é simpático, colorido e divertido pedir um 'Apple
Grumble'. Este tipo de "colorido" próprio do local é
deliciosamente maravilhoso. Talvez nunca deva mudar!
Então,
enquanto todos continuamos aplaudindo a cor e o charme das
peculiaridades de cada lugar - mesmo com os erros -, lembremos de
aplaudir a excelência linguística também! Cada coisa a seu tempo é
uma boa filosofia.
O
inglês está "em todos os lugares", mas não é necessário
que sofra tanto justamente por esse sucesso ...
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