sexta-feira, 27 de março de 2020

Somos nós; os navios que colidem noite adentro! - Ben Kassoy


Somos nós; os navios que colidem noite adentro!

E para nos salvar, nada posso fazer

Editor-in-chief @dosomething and freelancer about town.


Minha lembrança

sobre você é como dinheiro numa caixa de vidro no mar: linda, intocável, distorcida, sedutora e naufraga. Ou talvez seja como o dinheiro derramado do alto de um helicóptero que sobrevoa o oceano e eu, como num show maluco de tv, me agito frenético para agarrar as notas e, desesperado, tento não me afogar.

Não posso

salvar você agora; deixo-te à mercê das minhas lembranças. Cinco semanas ou 22 meses picados e moídos, triturados com pó de caleidoscópio, misturando as proporções do passado; um narrador delirante de sensações dos limites da realidade nos meus dedos.

Em certos tempos o tempo

é um bálsamo, em outros tempos o tempo é uma arma. Usarei cada segundo para destruir você.

Eu tento

mais uma vez lembrar do teu rosto, e sinto como se fosse desenterrar uma cápsula do tempo, espanar o pó e girar em uma dúzia de círculos, e em seguida bater tudo num liquidificador para ver se ainda tem o gosto do qual me lembro. E nem faz muito sentido, eu sei, mas o fato é que o seu rosto indescritível e lindo aparece entre poltronas e bandejas de bordo, como Mufasa nas nuvens ou Jesus em uma batata frita, emergem em minha Sprite diluída, e de repente sinto seus lábios nos meus, então penso que se este avião despencasse, eu cairia pensando em você, não porque te amo, mas porque talvez eu pudesse amar e isso não teria sido conveniente?

Pensei

ter escutado a sua voz, mas não passava do eco de uma versão futura de mim mesmo, reverberando numa caverna do tamanho da galáxia.
MAS VOCÊ SENTIU A MINHA FALTA????”
Grito cada vez mais alto, repetidamente, e escuto com clareza um vazio brutal. "Silencioso como o crescimento de um câncer" e nem mesmo preciso de uma biópsia para te revelar que é o sétimo estágio.

Somos

navios que colidem noite adentro.

Coloque o tapa-olho

e balance o bastão, sem cuidado algum, me golpeie e me escancare como à verdade crua. Destrua-me e veja ao vivo o que acontece: Por vezes sou um candelabro e o vidro se espatifa no chão; noutras sou como uma piñata jorrando música e prendas e cartões de presentes.

Eu sei

que há um arco-íris no fundo da minha xícara e existe poesia além da dor.

As minhas são

mãos de zumbis exumando-se e florescendo como rosas enquanto imagino que todas as covas são como jardins.

Talvez eu

esteja me construindo como uma morada para mim mesmo. Talvez seja eu uma máquina de paz. Talvez eu seja luz infatigável e mulher vigilante. Talvez minhas entranhas sejam a caixa de Pandora do dia contrário. Talvez esteja o meu amor amontoado como tartarugas no centro da Terra. Talvez eu seja a beleza por todo o caminho.


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