Somos nós; os navios que colidem noite adentro!
E para nos salvar, nada posso fazer
Editor-in-chief @dosomething and freelancer about town.
Minha lembrança
sobre você é como dinheiro numa caixa de vidro no mar: linda,
intocável, distorcida, sedutora e naufraga. Ou talvez seja como o
dinheiro derramado do alto de um helicóptero que sobrevoa o oceano e
eu, como num show maluco de tv, me agito frenético para agarrar as
notas e, desesperado, tento não me afogar.
Não posso
salvar
você agora; deixo-te à mercê das minhas lembranças. Cinco semanas
ou 22 meses picados e moídos, triturados com pó de caleidoscópio,
misturando as proporções do passado; um narrador delirante de
sensações dos limites da realidade nos meus dedos.
Em certos tempos o tempo
é um bálsamo, em outros tempos o tempo é uma arma. Usarei cada segundo para
destruir você.
Eu tento
mais
uma vez lembrar do teu rosto, e sinto como se fosse desenterrar uma
cápsula do tempo, espanar o pó e girar em uma dúzia de círculos,
e em seguida bater tudo num liquidificador para ver se ainda tem o gosto
do qual me lembro. E nem faz muito sentido, eu sei, mas o fato é
que o seu rosto indescritível e lindo aparece entre poltronas e bandejas de bordo, como Mufasa nas nuvens ou Jesus em uma
batata frita, emergem em minha Sprite diluída, e de repente sinto
seus lábios nos meus, então penso que se este avião despencasse,
eu cairia pensando em você, não porque te amo, mas porque talvez eu
pudesse amar e isso não teria sido conveniente?
Pensei
ter
escutado a sua voz, mas não passava do eco de uma versão futura de
mim mesmo, reverberando numa caverna do tamanho da galáxia.
“MAS VOCÊ SENTIU A MINHA FALTA????”
Grito
cada vez mais alto, repetidamente, e escuto com clareza um vazio
brutal. "Silencioso como o crescimento de um câncer" e nem
mesmo preciso de uma biópsia para te revelar que é o sétimo
estágio.
Somos
navios
que colidem noite adentro.
Coloque o tapa-olho
e balance o bastão, sem cuidado algum, me golpeie e me escancare como
à verdade crua. Destrua-me e veja ao vivo o que acontece: Por vezes
sou um candelabro e o vidro se espatifa no chão; noutras sou como uma
piñata jorrando música e prendas e cartões de presentes.
Eu sei
que
há um arco-íris no fundo da minha xícara e existe poesia além da
dor.
As minhas são
mãos
de zumbis exumando-se e florescendo como rosas enquanto imagino que
todas as covas são como jardins.
Talvez eu
esteja
me construindo como uma morada para mim mesmo. Talvez seja eu uma
máquina de paz. Talvez eu seja luz infatigável e mulher vigilante.
Talvez minhas entranhas sejam a caixa de Pandora do dia contrário.
Talvez esteja o meu amor amontoado como tartarugas no centro da
Terra. Talvez eu seja a beleza por todo o caminho.
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