The commas that cost companies millions
Para
a maioria das pessoas, uma vírgula perdida não é o fim do mundo.
Mas em alguns casos, o posicionamento exato de um sinal de pontuação
pode significar enormes somas de dinheiro.
Por Chris Stokel-Walker
23
de julho de 2018
Traduzido por Eduardo Rodrigues - original em https://www.bbc.com/worklife/article/20180723-the-commas-that-cost-companies-millions
Estamos
nos despedindo de 2018 com alguns dos maiores
sucessos da BBC Capital no ano passado.
Com essas histórias convincentes, dicas indispensáveis e insights
de especialistas, você estará pronto para tornar 2019 o melhor
possível.
Quanto
uma vírgula perdida pode custar?
Se
você estiver enviando mensagens de texto para um ente querido ou e-mail para um colega, o custo de errar na pontuação será - na
pior das hipóteses - um rosto vermelho e uma confusãozinha sem
importância.
Mas, para alguns, pode significar um caminho doloroso rumo à casa da
amargura.
Uma
empresa de laticínios na cidade de Portland, no Maine, Estados
Unidos, envolveu-se em um processo de US $ 5 milhões no início
deste ano por causa de uma vírgula perdida.
Três
motoristas de caminhões da Oakhurst Dairy alegaram que eram credores
de anos de salários adicionais, tudo por causa da forma como as
vírgulas eram usadas na legislação que rege o pagamento de horas
extras.
As
leis do estado declaravam que as horas extras não eram devidas a
trabalhadores envolvidos em “enlatamento,
processamento, conservação, congelamento, secagem, comercialização,
armazenamento, embalagem para embarque ou distribuição de: 1)
produtos agrícolas; 2) carne e produtos de peixe; e 3) alimentos
perecíveis”.
Os
motoristas argumentaram com sucesso que, como não havia vírgula
após “embarque” e antes de “ou distribuição”, eles
deveriam receber pagamento de horas extras. Se uma vírgula estivesse
lá, a lei teria explicitamente descartado aqueles que distribuem
alimentos perecíveis.
Como
houve confusão, o Tribunal de Apelações dos EUA decidiu
a favor dos
reclamantes, beneficiando cerca de 120 dos motoristas da empresa.
David Webbert, advogado que ajudou a levar o caso contra a empresa,
disse aos repórteres, na época, que a inclusão de uma vírgula na
cláusula "teria afundado nosso barco". (Ele não respondeu
aos pedidos de entrevista da BBC.)
O menor erro de pontuação em um contrato pode ter consequências inesperadas em grande escala
O
deslize mostra que o menor erro em pontuar uma cláusula de um
contrato pode ter consequências não intencionais massivas.
“A
pontuação é importante”, diz Ken Adams, autor de "Um manual de
estilo para redigir contratos". Mas nem todas as pontuações são
iguais: campos minados contratuais não são semeados com ponto e
vírgula ou traços (aqui está um - ) esperando para explodir ao se
tropeçar.
"Tudo
se resume à vírgulas", diz Adams. "Elas são importantes,
e exatamente como, vai depender do contexto."
Entregando
definição
Vírgulas
em contratos ligam cláusulas separadas de forma não definitiva,
deixando sua leitura aberta à interpretação. Enquanto um ponto
final é literalmente aquilo - uma completa e total parada para um
pensamento ou sentença, e uma indicação para o começo de outro -
as vírgulas ocupam um meio termo linguístico, e que é muitas vezes
confuso. “As vírgulas são um aval para a confusão sobre qual
parte de uma sentença se relaciona com o quê”, explica Adams.
Ocupam um meio-termo linguístico, geralmente bem confuso
A
língua inglesa é fluida, em evolução e altamente subjetiva.
Argumentos têm sido discutidos sobre o valor das chamadas vírgulas de Oxford (uma vírgula opcional antes da palavra “and” ou “or” no final de uma lista). Podem haver bons argumentos em ambos os lados do debate, mas isso não funciona para a lei porque é preciso ter uma resposta definitiva: sim ou não. Em acordos legais de alto risco, a forma como as vírgulas são utilizadas é crucial para o seu significado. E no caso da Oakhurst Dairy contra os motoristas de entrega, a vírgula de Oxford é julgada como tendo favorecido o propósito destes últimos.
Só porque você quer dizer alguma coisa, não significa que um
tribunal concordará, diz Jeff Nobles, advogado de
apelação do Texas envolvido em um processo de seguro que
dependia, em parte, da pontuação de um contrato.
De
acordo com Nobles, a maioria dos tribunais dos EUA dirá que
realmente não importa o que as partes pretendiam subjetivamente; e
sim a intenção objetiva nos termos escritos de seu contrato. “A
pontuação às vezes altera o significado de uma frase”, diz ele.
Nobles
representou uma companhia de seguros em um caso no Supremo Tribunal
do Texas referente à cobertura de seguro para um empregado que
morreu no trabalho.
Nobles argumentou, com sucesso, que a pontuação era importante para
uma cláusula de indenização contratual, quando a empresa tentou
acionar a cobertura sob sua apólice de seguro depois que um
funcionário subcontratado morreu no trabalho. Isso estabeleceu um
precedente no sistema legal do estado, ele acredita.
O advogado diz que os tribunais dos EUA se tornaram cada vez mais textuais -
"eles olham cada vez mais para as palavras registradas no papel,
em vez do testemunho das pessoas que registraram essas palavras no
documento."
No
entanto, as discussões sobre as vírgulas acontecem há mais de um
século.
Uma
vírgula cara
Em
1872, uma lei tarifária americana com uma vírgula
indesejada custou aos contribuintes cerca de US $ 2 milhões (o
equivalente a US $ 40 milhões hoje). A Lei de Tarifas dos Estados
Unidos, como originalmente redigida em 1870, permitia que “plantas
frutíferas, tropicais e semi-tropicais com propósitos de propagação
ou cultivo” estivessem isentas de tarifas de importação.
Por
uma razão desconhecida, quando revisada dois anos depois, uma
vírgula vadia deslizou entre “frutíferas” e “plantas”. De repente,
todas as frutas tropicais e semi-tropicais puderam ser importadas sem
qualquer custo.
Membros
do Congresso dos EUA debateram a questão e o problema foi resolvido
– mas não antes do New York Times lamentar o uso de “Uma
Vírgula Cara”.
Não seria o último erro desse tipo.
Linguagem de contrato é como código de software: faça certo e tudo funciona bem. Mas cometa um erro de digitação e a coisa toda desmorona
“A
linguagem dos contratos é limitada e estilizada”, diz Adams. Cabe
uma comparação com código de software: faça certo e tudo funciona
bem. Mas cometa um erro de digitação e a coisa toda desmorona.
Quando
erros são introduzidos em documentos legais, provavelmente serão
notados muito mais do que em qualquer outra forma de escrita, diz
ele. “As pessoas são mais propensas a brigar em razão de
instâncias de ambiguidade sintática do que em outros tipos de
escrita.”
Nublando
as águas
É
claro que, em algumas circunstâncias, as elaborações de contratos
podem introduzir ambiguidades. Conseguir que diferentes países
assinem os mesmos princípios pode ser um desafio, particularmente
para os acordos sobre mudanças climáticas.
Convenções
iniciais sobre mudanças climáticas incluíram esta linha:
“As
partes têm o direito a, e devem, promover o desenvolvimento
sustentável.”
A
sentença garante que os signatários do acordo têm a capacidade de
promover o desenvolvimento sustentável – e devem fazê-lo.
Mas
em sua versão original, a segunda vírgula foi colocada depois da
palavra “promover”, não antes dela:
“
As
partes têm o direito a, e devem promover, o desenvolvimento
sustentável."
Alguns
países não ficaram satisfeitos com a redação original porque não
queriam necessariamente ficar presos à promoção do desenvolvimento
sustentável. Mover a vírgula manteve os pessimistas felizes
enquanto aplacava aqueles que queriam uma ação mais forte.
"Sendo um tanto quanto criativo com a pontuação, os países puderam sentir que seus interesses foram abordados", explica Stephen Cornelius, assessor-chefe sobre mudanças climáticas da WWF, que representou o Reino Unido e a UE nas negociações da ONU sobre mudanças climáticas. "Você está tentando chegar a um acordo no qual as pessoas possam concordar substancialmente."
Truques
de negócios
Essa
flexibilidade linguística acontece com mais frequência do que se
imagina.
“Na
diplomacia, mesmo que se tente um único acordo, é muito
comum haver significados diversos para diferentes partes”, diz a
negociadora de mudança climática Laura Hanning Scarborough. “Pode se usar termos como 'inter alia', ou 'isso inclui, entre outras
coisas', para desfocar as linhas e incluir qualquer coisa. Você pode
usar vírgulas como parte disso também. Existem muitos truques de
linguagem que se usam para apaziguar as pessoas. ”
Para
a maioria dos envolvidos, no entanto, é importante garantir que os
contratos não sejam ambíguos. Por essa razão, é crucial testar a
linguagem contratual ao ponto de ruptura, dando-a a alguém que
testará seus limites - alguém que a lerá da maneira mais
inadequada e inútil, diz Tiffany Kemp, instrutora de contratação
comercial da Associação Internacional para Contrato e Gestão
Comercial.
Uma das maiores batalhas em torno de uma vírgula foi uma disputa entre
duas empresas de telecomunicações canadenses. A Rogers
Communications e a Bell Aliant travaram uma batalha legal no valor de
CAD$ 1 milhão (US $ 760.000) por um contrato para substituir postes
de serviços públicos em todo o país.
A
argumentação foi provocada por uma única frase:
“
Este
contrato será efetivo a partir da data em que é feito e continuará
em vigor por um período de cinco (5) anos a partir da data em que é
feito, e posteriormente por períodos sucessivos de cinco (5) anos, a
menos e até que seja rescindido por notificação prévia de um ano
escrita por qualquer das partes."
Os
dois lados argumentaram que a vírgula depois de "cinco (5)
anos" significava algo diferente: a Bell Aliant disse que o
aviso prévio de um ano para o término seria aplicado a qualquer
momento; Rogers só o aplicava após o primeiro mandato de cinco
anos.
Isso
era importante, já que Rogers havia investido muito com base na sua
leitura do contrato: quando assinaram um contrato para arrendar os
postes da Bell Aliant em 2002, estavam pagando apenas CAD $ 9,60 por
poste. Em 2004, o custo quase dobrou. A Bell Aliant,
compreensivelmente, queria rescindir o contrato e renegociar com o
novo preço mais alto. Rogers não.
Tribunais
sucessivos estavam igualmente incertos sobre o acordo: a Comissão de
Rádio-Televisão e Telecomunicações do Canadá declarou pela
primeira vez a favor da Bell Aliant em 2006; um ano depois, mudou de
ideia após consultar a versão em francês do contrato, que não
incluía a mesma ambiguidade.
Essa
disputa não foi provocada por má fé, avalia Kemp. “Às vezes há
entendimentos genuinamente diferentes”, explica ela. “Essa
pequena vírgula foi colocada em um local adequado a uma pausa para
respirar, caso estivéssemos lendo em voz alta.”
Pontuação
mortal
Como
podem essas vírgulas mal colocadas ou usadas incorretamente fazerem
parte de contratos complicados elaborados por profissionais? Parte do
problema, diz Adams, é a tecnologia. “A elaboração de contratos
vem sendo uma antiga prática de copiar e colar de documentos
precedentes, e isso resulta em uma espécie de negligência, um
distanciamento do âmago da questão de se expressar o que realmente
se deseja expressar”, diz ele. "É fácil descartar esse tipo
de problema."
Em um exemplo extremo, uma vírgula fora de lugar ocupou o centro das atenções em um julgamento de pena de morte
Em
um exemplo extremo, uma vírgula fora de lugar estava no centro de um
julgamento por pena de morte. Roger Casement, um nacionalista
irlandês, foi enforcado em 1916 por força do Ato de Traição 1351.
Ele incitou os prisioneiros de guerra irlandeses mantidos na Alemanha
a se unirem para lutar contra os britânicos. O debate sobre se
Casement era culpado dependia da redação do Ato de Traição datado
do Século XIV e do uso de uma vírgula: com isso, as ações de
Casement na Alemanha eram ilegais; sem isso, ele se safaria.
Apesar
da afirmação do advogado de Casement de que "os
crimes não devem depender do significado de pausas ou de vírgulas",
e "se um crime dependesse de uma vírgula, o assunto deveria ser
determinado em favor do acusado, e não da Coroa", o tribunal
decidiu que a vírgula importava. Casement foi considerado culpado e
executado.
Embora
hoje a vida e a morte não dependam do uso de vírgulas - muito
dinheiro, apólices de seguro e acordos ambientais certamente dependem.
Por
essa razão, é importante verificar com cuidado todos os contratos
que assinamos, dizem os especialistas - e isso significa não apenas
esmiuçar os termos, mas também garantir que cada vírgula esteja no
lugar correto.
As
pessoas assinam contratos não porque negociaram seus significados,
mas com base em seu próprio entendimento sobre com o que estão
concordando, explica Nobles. Contratos escritos por advogados em nome
de um negócio podem ter um significado diferente do que o leigo
entende.
Então, vale a pena prestar atenção. Se uma pontuação parecer fora de
lugar ou apresentar ambiguidade, fale.
“O
objetivo de um contrato é ajudar as pessoas a obterem os resultados
desejados e saberem o que devem fazer e esperar da outra parte”, diz
Kemp.
“Se
há um mal-entendido, as partes devem agir para resolver o problema.
Tenha a discussão hoje, em vez de deixar para amanhã."
Isso
pode evitar muita dor no futuro.
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terça-feira, 10 de setembro de 2019
As vírgulas que custam milhões às empresas
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