Os efeitos prejudiciais da cafeína em excesso
Você
acabou de
“entornar”
seu quinto expresso duplo. As coisas estão ficando estranhas: você
não consegue se concentrar, seu peito está apertado e, por alguma
razão, continua mexendo os dedos dos pés. Estas são apenas algumas
das inúmeras maneiras pelas quais a cafeína pode dificultar a vida.
Cada dose é menos agradável que as anteriores.
Muitos
de nós evitam com segurança esse ponto no espectro do consumo de
cafeína. Optamos por um macchiato gelado ou qualquer outra
coisa, e ficamos "de boa". Quantidades moderadas como essa
podem nos ajudam na concentração, a estudar e - o mais importante - fazer
coisas produtivas pela manhã. Mas a maioria de nós não se satisfaz
apenas com quantidades moderadas.
Na
tentativa de maximizar os bons efeitos da cafeína, muitos
ultrapassam de longe os limites. Subestimamos o quanto já
consumimos; bebemos mais, e entramos nesse mundo do "Grande
Arrependimento". Essa transição nos transporta de um lugar de
produtividade onde realmente desfrutamos nossas vidas, para um onde ficamos nervosos, paranoicos e alterados. Aqui registramos o modo
como ocorre essa transição.
Quando
se trata de cafeína, a quantidade que bebemos varia. Nos Estados
Unidos, a média é surpreendentemente insignificante 100
a 200 mg.
Em lugares como a Noruega e a Suécia, verifica-se um inconcebível
índice de 800 mg. Para referência, cerca de 473 ml do Pike
Roast da
Starbucks contém 310 mg. Uma dose extra
large
contém 410 mg.
As
doses indesejáveis giram em torno de 400 mg. Se você realmente
consumir toda essa dose — o que infelizmente eu tenho feito —
encontra-se diretamente nesse espaço. Este é o ponto em que a
maioria de nós passa de feliz e produtivo para, bem...tudo de ruim.
A
maldição do excesso de cafeína não é apenas sobre a quantidade -
mas também sobre o período de tempo em que é consumida. A cafeína
leva cerca de quinze minutos para iniciar a digestão no fígado, e
outros trinta para terminar. Então, tem uma meia-vida de cerca de
quatro horas. Isso significa que para atravessar de um mundo para
outro é preciso beber muito depressa.
Essa
experiência agrava-se pelo fato de que, nos primeiros quinze
minutos, é um verdadeiro voo às cegas. Ou seja, não nos damos
conta da quantidade já ingerida. Isso cria uma janela terrível na
qual, enquanto procuramos pelos efeitos desejáveis, acabamos por
beber demais.
Perceba
que minha conversa até agora se concentrou no café. Há uma razão
para isso: o café tem mais miligramas de cafeína por ml do que o chá,
chocolate, refrigerante ou bebidas energéticas. É, em outras
palavras, o principal responsável por essa experiência, mais do que
qualquer um dos outros. Se você se sentir mal depois de comer
chocolate ou ingerir muita bebida energética, provavelmente não
será por causa da cafeína.
Para
que a cafeína exerça seus efeitos sobre nós, ela precisa passar
pelo processo
de
conversão no fígado. Este processo reduz a forma original para
metilxantina,
a
molécula responsável por todos os efeitos no corpo. Uma vez
convertida, a versão modificada entrará no sangue e será enviada
ao cérebro.
Quando
metilxantina entra no cérebro, bloqueia nossos receptores de
adenosina.
A adenosina é uma molécula que diminui a excitação e
conduz o corpo
para o sono. Ela se acumula ao longo do dia como um subproduto do
metabolismo celular, e quanto mais se acumula, mais prepara o nosso
corpo para o sono. As
pessoas às vezes chamam
isso de "freios" do corpo: quanto mais há, mais nos
desacelera.
Os
receptores de adenosina são onipresentes em todo o cérebro. O maior
responsável pelos ciclos de sono-vigília é o prosencéfalo
basal.
Essa estrutura do lóbulo frontal funciona como um “interruptor”
biológico para o cérebro. Ela ajuda a coordenar a atividade de
nossas redes de excitação (chamadas de sistema de ativação ascendente)
para alterar o nível geral de alerta e excitação do nosso cérebro.
Os
efeitos desejáveis da cafeína se manifestam nessas redes de alerta.
Que secretam neurotransmissores como dopamina
e
norepinefrina,
e
nos tornam mais alertas, motivados, atentos e funcionais. Como a
adenosina não aciona os freios desses sistemas, eles ficam
sobrecarregados. O resultado é a estimulação e a alegria que a
maioria de nós obtém daqueles lattes
gelados matinais.
Essas
redes de alerta também explicam os efeitos miseráveis da cafeína.
Numa tentativa de maximizar esses sentimentos agradáveis, muitos de
nós bebemos além do limite. Cresce nossa impaciência na espera
pelo efeito animador, tomamos outras duas doses, e só depois
percebemos o erro dessa decisão. É quando a nossa experiência só
piora.
A
experiência do excesso de cafeína é chamada cafeinismo.
Alguns
dos sintomas mais comuns incluem
nervosismo,
irritabilidade, taquicardia (ritmo cardíaco acelerado), “falha
gastrointestinal” e uma sensação de mal-estar geral. Esses
sintomas surgem em parte pela superativação dos sistemas de
excitação do cérebro, mas também, em parte, por outro motivo.
No
campo da ecologia comportamental, existe a ideia chamada de Continuum
de iminência predatória.
Esse Continuum sugere que a atividade neural do nosso cérebro muda
de maneiras distintas quanto mais nos aproximamos de um predador.
Tais mudanças existem em três etapas:
Quanto
mais próximo chegarmos desse predador, mais as áreas do mesencéfalo
(em nosso cérebro) assumem o controle. Essas regiões são
frequentemente responsáveis por funções de sobrevivência,
como lutar ou fugir. À medida que aumenta sua atividade, nosso
cérebro "superior" - aquela região responsável por
pensar, planejar, tomar decisões e efetuar cálculos - é desligada.
Enquanto
várias partes do cérebro estão envolvidas nesse processo, três se
destacam: a amígdala
-
chamada "centro do medo" -, o
cinza periaquedutal - um
par de núcleos envolvidos na inibição da dor -, e o córtex
pré-frontal médio
uma área responsável por inibir as duas primeiras regiões.
À
medida que a amígdala e o cinza periaquedutal aumentam sua
atividade, o córtex pré-frontal é desligado.
O
que chama a atenção nesse continuum é que muita cafeína pode
provocar uma mudança semelhante na atividade neural. Quando perto de nosso limite - isto é, quando estamos numa overdose -
nos aproximamos do estágio pós-encontro: nossa amígdala e o cinza
periaquedutal ficam mais ativos, enquanto o córtex pré-frontal se
apaga. Demasiada cafeína, então, invoca uma experiência semelhante
a ter se deparado com um leão.
Agora,
você pode estar pensando: “Uau, eu nunca tive essa experiência
antes. Isso tudo é fantasia." Se assim for, garanto que foi por
pura sorte. Existem diferenças individuais na forma como os nossos
corpos processam a cafeína, por isso alguns de nós inevitavelmente
digerem mais rapidamente, deixando-a com meias-vidas mais curtas,
etc. Essas diferenças diminuem as chances de acumular uma
concentração indesejável. Mas há outra razão pela qual podemos
reagir de formas diferentes.
A
experiência do cafeinismo é mais provável de ocorrer em pessoas
com predisposições
para a ansiedade.
Em pessoas assim, quantidades menores podem provocar paranoia e
nervosismo - perfis semelhantes ao estágio pós-encontro. Nem todo
mundo compartilha tais propensões, então nem todos sentirão os
mesmos efeitos.
Tais
disposições são importantes por causa da maneira como as emoções
funcionam em nosso corpo. A Teoria
da avaliação da emoção,
por exemplo, preconiza que a emoção tem componentes fisiológico e
cognitivo. Isso significa que podemos ter a mesma experiência
fisiológica - o peito apertado, pernas inquietas, aumento do ritmo
cardíaco - mas interpretada de maneiras diferentes. É a diferença
entre o paraquedismo e a corrida por sua vida.
Aqueles
de nós com predisposição para a ansiedade, então, são mais
propensos a interpretar a excitação do excesso de cafeína como
medo e pânico, não alegria e diversão. Para nós, a
experiência inicia o movimento ao longo do continuum predatório: as
áreas de luta ou fuga do cérebro assumem o controle, outras partes
são desligadas. O resultado é aquela sensação desagradável de
nervosismo, agitação e vigilância que sentimos em relação a tudo
que nos rodeia.
Para
aqueles vitimados pelo cafeinismo, é decisivamente a pior coisa de
todas. Todos os benefícios que inicialmente a cafeína proporcionou,
desaparecem de repente - ficamos incapazes de nos concentrar, nossas
pernas ficam inquietas, não podemos fazer muita coisa. É como se
tivéssemos acabado de ver um leão escondido atrás de arbustos bem
próximos. Talvez esta seja uma boa informação para se ter em mente
antes de engolir o quinto espresso.
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O material aqui descreve as várias misturas cafeinadas que consumimos, juntamente com os seus níveis correspondentes de cafeína.
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Este outro descreve tudo o que você pode querer saber sobre os sistemas de excitação ascendente e sua interação com a cafeína.
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Este artigo fala sobre os efeitos ansiogênicos da cafeína e como sua origem pode estar relacionada com as mutações no receptor de adenosina.
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