segunda-feira, 4 de junho de 2018

Neurolinguística - 1/2

Lise Menn

Neurolinguística é o estudo sobre como a linguagem é representada no cérebro: ou seja, como e onde nossos cérebros armazenam o conhecimento da linguagem (ou idiomas) que falamos, entendemos, lemos e escrevemos, o que acontece ao adquirirmos esse conhecimento, e também sobre como usamos essa base em nossas vidas cotidianas. Neurolinguistas tentam responder perguntas tais como: o que acontece em nosso cérebro que torna a linguagem humana possível - por que nosso sistema de comunicação é tão elaborado e tão diferente dos de outros animais? A linguagem usa o mesmo tipo de processamento neural que outros sistemas cognitivos, como música ou matemática? Onde fica armazenada uma palavra aprendida? Como uma palavra "vem à mente" quando você precisa (e por quê às vezes não?)
Se você conhece dois idiomas, como alternar entre eles e evitar que interfiram um com o outro? Se aprendeu duas línguas desde o nascimento, qual a diferença entre o seu cérebro e o de alguém que fala apenas um idioma, e por quê? O lado esquerdo do cérebro é realmente "o lado da linguagem"? Se você perder a capacidade de falar ou ler por causa de um derrame ou outra lesão cerebral, qual será a sua capacidade para aprender a falar de novo? Que tipos de terapia são conhecidas para ajudar e que novos tipos de terapia de linguagem parecem promissoras? As pessoas que leem idiomas escritos da esquerda para a direita (como inglês ou espanhol) e pessoas que leem idiomas escritos da direita para a esquerda (como hebraico e árabe), armazenam tal habilidade em lugares distintos do cérebro? E se você ler uma linguagem escrita que usa algum outro tipo de símbolo em vez de um alfabeto, como chinês ou japonês? Sendo disléxico, de que maneira o seu cérebro é diferente do cérebro de alguém que não tem problemas para ler? E no caso dos gagos?
Como você pode ver, a neurolinguística está profundamente entrelaçada com a psicolinguística, que é o estudo das etapas do processamento da linguagem necessárias para falar e compreender palavras e sentenças, aprender a língua materna e as posteriores, e também o processamento da linguagem em distúrbios da fala, linguagem e leitura. Informações sobre esses distúrbios estão disponíveis na American Speech-Language Hearing Association (ASHA), em http://www.asha.org/public/.

Como nossos cérebros funcionam

Nossos cérebros armazenam informações em redes de células cerebrais (neurônios e células gliais). Essas redes neurais são conectadas às partes do cérebro que controlam nossos movimentos (incluindo os necessários para produzir a fala) e nossas sensações internas e externas (sons, visões, toques e aqueles que vêm de nossos próprios movimentos). As conexões dentro dessas redes podem ser fortes ou fracas, e as informações que uma célula envia podem aumentar a atividade de alguns de seus vizinhos e inibir a de outros. Cada vez que uma conexão é usada fica mais forte. Vizinhanças densamente conectadas de células cerebrais realizam cálculos que utilizam informações provenientes de outras áreas, geralmente envolvendo ciclos de retroalimentação. Muitos cálculos são realizados simultaneamente (o cérebro é um poderoso processador em paralelo de informações).
Adquirir informação ou o aprendizado de uma habilidade acontece estabelecendo novas conexões e / ou alterando os pontos fortes das conexões existentes. Essas redes locais e de longa distância de células cerebrais conectadas mostram a plasticidade http://merzenich.positscience.com/?page_id=143 - isto é, podem continuar mudando ao longo de nossas vidas, permitindo aprender e recuperar-nos (até certo ponto) de lesões cerebrais. Para pessoas com afasia http://www.asha.org/public/speech/disorders/Aphasia.htm (perda de linguagem devido a dano cerebral), dependendo da gravidade do dano, a intensa terapia e prática, talvez em combinação com a estimulação magnética transcraniana (TMS), podem trazer grandes melhorias na linguagem, assim como no controle do movimento; veja a seção "Afasia " abaixo, e os links postados lá. Métodos baseados em computador que permitem uma intensa prática de linguagem sob a supervisão de um fonoaudiólogo estão se tornando disponíveis.

Onde está a linguagem no cérebro?

Essa questão é difícil de responder, tendo em vista que a atividade cerebral é como a atividade em uma megalópole. Uma cidade é organizada para que as pessoas que nela habitem obtenham o necessário para viver, mas não se pode dizer que uma atividade complexa, como fabricar determinado produto, esteja "em um só lugar". As matérias-primas precisam chegar nos momentos certos, os subcontratantes são necessários, o produto deve ser enviado em várias direções. O mesmo acontece em nossos cérebros. Não podemos dizer que a linguagem está "concentrada" numa parte específica do cérebro. Nem é verdade que uma determinada palavra está "guardada" num lugar do cérebro de uma pessoa; a informação que vem agregada quando nós entendemos ou dizemos tal palavra chega de muitos lugares, dependendo do significado. Por exemplo, quando entendemos ou dizemos uma palavra como 'maçã', é provável que usemos informações sobre o que maçãs parecem, cheiram e têm gosto, mesmo que não tenhamos consciência disso. Portanto, ouvir, entender, falar e ler envolve atividades em muitas partes do cérebro. No entanto, algumas áreas estão mais envolvidas na linguagem do que outras.


A maioria das regiões cruciais tanto para a linguagem falada quanto para a escrita estão no lado esquerdo do córtex cerebral (o hemisfério esquerdo), independentemente da linguagem que você lê e de como seja escrita. Sabemos disso porque a afasia é quase sempre causada por lesão no hemisfério esquerdo, e não no direito, não importa qual idioma você fala ou lê, supondo que você consiga ler alguma coisa. (Isso é verdade para cerca de 95% das pessoas destras e cerca de metade das pessoas canhotas.) Uma grande parte do cérebro (a "substância branca") consiste em fibras que conectam diferentes áreas umas às outras, porque o uso da linguagem (e pensamento) requer a rápida integração de informações que são armazenadas e / ou processadas em muitas regiões diferentes daquele órgão.
Áreas no lado direito são essenciais para se comunicar de forma eficaz e para entender o que as pessoas estão dizendo. Se você é bilíngue, mas não aprendeu os dois idiomas desde o nascimento, seu hemisfério direito pode estar um pouco mais envolvido no segundo idioma do que no primeiro. Nossos cérebros são relativamente plásticos - isto é, sua organização depende tanto de nossas experiências quanto de nossa herança genética. Por exemplo, muitas das áreas “auditivas” do cérebro, que estão envolvidas com a compreensão da linguagem falada em pessoas com audição normal, são usadas para entender (visualmente) a linguagem de sinais por pessoas surdas desde o nascimento ou que se tornaram surdas cedo (e não possuem implante coclear). E os cegos usam as áreas "visuais" de seus cérebros para processar palavras escritas em Braille, mesmo que o Braille seja lido por toque. http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=the-reading-region
Os falantes bilíngues desenvolvem habilidades especiais no controle de qual idioma usar, e se é apropriado que misturem tais idiomas, dependendo de com quem estão falando. Essas habilidades podem ser úteis para outras tarefas também. http://www.nih.gov/researchmatters/may2012/05072012bilingual.htm
Continua...


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