Lise Menn
Neurolinguística
é o estudo sobre como a linguagem é representada no cérebro: ou
seja, como e onde nossos cérebros armazenam o conhecimento da
linguagem (ou idiomas) que falamos, entendemos, lemos e escrevemos, o
que acontece ao adquirirmos esse conhecimento, e também sobre como
usamos essa base em nossas vidas cotidianas. Neurolinguistas tentam
responder perguntas tais como: o que acontece em nosso cérebro que
torna a linguagem humana possível - por que nosso sistema de
comunicação é tão elaborado e tão diferente dos de outros
animais? A linguagem usa o mesmo tipo de processamento neural que
outros sistemas cognitivos, como música ou matemática? Onde fica
armazenada uma palavra aprendida? Como uma palavra "vem
à mente" quando você precisa (e por quê às vezes não?)
Se
você conhece dois idiomas, como alternar entre eles e evitar
que interfiram um com o outro? Se aprendeu duas línguas desde
o nascimento, qual a diferença entre o seu cérebro e o de alguém
que fala apenas um idioma, e por quê? O lado esquerdo do cérebro é
realmente "o lado da linguagem"? Se você perder a
capacidade de falar ou ler por causa de um derrame ou outra lesão
cerebral, qual será a sua capacidade para aprender a falar de novo?
Que tipos de terapia são conhecidas para ajudar e que novos tipos de
terapia de linguagem parecem promissoras? As pessoas que leem idiomas
escritos da esquerda para a direita (como inglês ou espanhol) e
pessoas que leem idiomas escritos da direita para a esquerda (como
hebraico e árabe), armazenam tal habilidade em lugares distintos do
cérebro? E se você ler uma linguagem escrita que usa algum outro
tipo de símbolo em vez de um alfabeto, como chinês ou japonês?
Sendo disléxico, de que maneira o seu cérebro é diferente do
cérebro de alguém que não tem problemas para ler? E no caso dos
gagos?
Como
você pode ver, a neurolinguística está profundamente entrelaçada
com a psicolinguística, que é o estudo das etapas do processamento
da linguagem necessárias para falar e compreender palavras e
sentenças, aprender a língua materna e as posteriores, e também o
processamento da linguagem em distúrbios da fala, linguagem e
leitura. Informações sobre esses distúrbios estão disponíveis na
American Speech-Language Hearing Association (ASHA), em
http://www.asha.org/public/.
Como nossos cérebros funcionam
Nossos
cérebros armazenam informações em redes de células cerebrais
(neurônios e células gliais). Essas redes neurais são conectadas
às partes do cérebro que controlam nossos movimentos (incluindo os
necessários para produzir a fala) e nossas sensações internas e
externas (sons, visões, toques e aqueles que vêm de nossos próprios
movimentos). As conexões dentro dessas redes podem ser fortes ou
fracas, e as informações que uma célula envia podem aumentar a
atividade de alguns de seus vizinhos e inibir a de outros. Cada vez
que uma conexão é usada fica mais forte. Vizinhanças densamente
conectadas de células cerebrais realizam cálculos que utilizam
informações provenientes de outras áreas, geralmente envolvendo
ciclos de retroalimentação. Muitos cálculos são realizados
simultaneamente (o cérebro é um poderoso processador em paralelo de
informações).
Adquirir
informação ou o aprendizado de uma habilidade acontece
estabelecendo novas conexões e / ou alterando os pontos fortes das
conexões existentes. Essas redes locais e de longa distância de
células cerebrais conectadas mostram a
plasticidade http://merzenich.positscience.com/?page_id=143
- isto é,
podem continuar mudando ao longo de nossas vidas, permitindo aprender
e recuperar-nos (até certo ponto) de lesões cerebrais. Para pessoas
com afasia
http://www.asha.org/public/speech/disorders/Aphasia.htm (perda
de linguagem devido a dano cerebral), dependendo da gravidade do
dano, a intensa terapia e prática, talvez em combinação com a
estimulação magnética transcraniana (TMS), podem trazer grandes
melhorias na linguagem, assim como no controle do movimento; veja a
seção "Afasia " abaixo, e os links postados lá. Métodos baseados em
computador que permitem uma intensa prática de linguagem sob a
supervisão de um fonoaudiólogo estão se tornando disponíveis.
Onde está a linguagem no cérebro?
Essa
questão é difícil de responder, tendo em vista que a atividade
cerebral é como a atividade em uma megalópole. Uma cidade é
organizada para que as pessoas que nela habitem obtenham o necessário para viver, mas não se pode dizer que uma atividade
complexa, como fabricar determinado produto, esteja "em um só
lugar". As matérias-primas precisam chegar nos momentos certos,
os subcontratantes são necessários, o produto deve ser enviado em
várias direções. O mesmo acontece em nossos cérebros. Não
podemos dizer que a linguagem está "concentrada" numa
parte específica do cérebro. Nem é verdade que uma determinada
palavra está "guardada" num lugar do cérebro de uma
pessoa; a informação que vem agregada quando nós entendemos ou
dizemos tal palavra chega de muitos lugares, dependendo do
significado. Por exemplo, quando entendemos ou dizemos uma palavra
como 'maçã', é provável que usemos informações sobre o que
maçãs parecem, cheiram e têm gosto, mesmo que não tenhamos
consciência disso. Portanto, ouvir, entender, falar e ler envolve
atividades em muitas partes do cérebro. No entanto, algumas áreas estão mais envolvidas na linguagem do que outras.
A
maioria das regiões cruciais tanto para a linguagem falada quanto
para a escrita estão no lado esquerdo do córtex cerebral (o
hemisfério esquerdo), independentemente da linguagem que você lê e
de como seja escrita. Sabemos disso porque a afasia é quase sempre
causada por lesão no hemisfério esquerdo, e não no direito, não
importa qual idioma você fala ou lê, supondo que você consiga ler
alguma coisa. (Isso é verdade para cerca de 95% das pessoas destras
e cerca de metade das pessoas canhotas.) Uma grande parte do cérebro
(a "substância branca") consiste em fibras que conectam
diferentes áreas umas às outras, porque o uso da linguagem (e
pensamento) requer a rápida integração de informações que são
armazenadas e / ou processadas em muitas regiões diferentes daquele órgão.
Áreas
no lado direito são essenciais para se comunicar de forma eficaz e
para entender o que as pessoas estão dizendo. Se você é bilíngue,
mas não aprendeu os dois idiomas desde o nascimento, seu hemisfério
direito pode estar um pouco mais envolvido no segundo idioma do que
no primeiro. Nossos cérebros são relativamente plásticos - isto é,
sua organização depende tanto de nossas experiências quanto de
nossa herança genética. Por exemplo, muitas das áreas “auditivas”
do cérebro, que estão envolvidas com a compreensão da linguagem
falada em pessoas com audição normal, são usadas para entender
(visualmente) a linguagem de sinais por pessoas surdas desde o
nascimento ou que se tornaram surdas cedo (e não possuem implante
coclear). E os cegos usam as áreas "visuais" de seus
cérebros para processar palavras escritas em Braille, mesmo que o
Braille seja lido por toque.
http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=the-reading-region
Os
falantes bilíngues desenvolvem habilidades especiais no controle de
qual idioma usar, e se é apropriado que misturem tais idiomas,
dependendo de com quem estão falando. Essas habilidades podem ser
úteis para outras tarefas também.
http://www.nih.gov/researchmatters/may2012/05072012bilingual.htm
Continua...
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