segunda-feira, 14 de maio de 2018

Breve história da linguística moderna


A história da Linguística Moderna

por Frederick J. Newmeyer
O campo da linguística moderna data do início do século XIX. Enquanto as antigas Índia e Grécia possuíam uma notável tradição gramatical, durante a maior parte da história a linguística fez parte da filosofia, da retórica e da análise literária para tentar descobrir como funciona a linguagem humana. Mas, em 1786, uma descoberta surpreendente foi feita: há correspondências sonoras regulares entre muitas das línguas faladas na Europa, na Índia e na Pérsia. Por exemplo, o som "f" em inglês frequentemente corresponde a um som "p" em, entre outros, latim e sânscrito, uma importante língua antiga da índia:
                                              INGLÊS             LATIM                SÂNSCRITO
                                                father                pater                        pitar
                                                full                     plenus                     purnas
                                                for                      per                           pari



Estudiosos perceberam que essas correspondências - encontradas em milhares de palavras - não poderiam ser devidas ao acaso ou à influência mútua. A única conclusão confiável foi que essas línguas estão relacionadas umas com as outras porque vêm de uma ancestral comum. Grande parte da linguística do século XIX foi dedicada a descobrir a natureza dessa língua materna, falada há cerca de 6.000 anos, bem como as mudanças pelas quais a "proto-indo-européia", como a chamamos agora, se ramificou para o inglês, russo, hindi, e suas outras descendentes modernas.
Este trabalho de linguística histórica continua até os dias atuais. Os estudiosos conseguiram agrupar cerca de 5.000 idiomas do mundo em um número de famílias linguísticas que compartilham uma ancestral comum.

O estudo da estrutura da linguagem

No início do século XX, a atenção voltou-se para o fato de que não apenas a mudança de linguagem, mas também a estrutura da linguagem, é sistemática e governada por regras e princípios regulares. A atenção dos linguistas do mundo voltou-se cada vez mais para o estudo da gramática - no sentido técnico do termo; a organização do sistema de som de uma linguagem e a estrutura interna de suas palavras e frases. Na década de 1920, o trabalho de "linguística estrutural", inspirado em grande parte pelas idéias do suíço Ferdinand de Saussure, estava desenvolvendo sofisticados métodos de análise gramatical. Este período também testemunhou uma intensificação do estudo acadêmico de línguas que nunca haviam sido escritas. Já se tornara comum, por exemplo, um linguista americano gastar anos trabalhando nas complexidades das gramáticas Chippewa, Ojibwa, Apache, Mohawk ou alguma outra língua indígena da América do Norte.
O último meio século viu um aprofundamento da compreensão dessas regras e princípios e o crescimento de uma convicção generalizada de que, apesar de sua aparente diversidade, todas as línguas do mundo foram, basicamente, cortadas do mesmo tecido. À medida que a análise gramatical se tornou mais profunda, encontramos mais semelhanças fundamentais entre as línguas do mundo. O trabalho iniciado pelo linguista Noam Chomsky em 1957, vê esse fato como uma consequência da "pré-formatação" do cérebro humano para propriedades particulares da gramática, e portanto, limitando drasticamente o número de possíveis linguagens humanas. Os resultados desse trabalho têm sido a base para uma grande quantidade de pesquisas linguísticas recentes, e também um dos mais importantes pontos de controvérsia no campo. Livros e artigos de periódicos rotineiramente apresentam evidências a favor ou contra a ideia de que as propriedades centrais da linguagem são inatas.


Uso da Linguagem: Estudos de significado

Há também uma longa tradição no estudo do que significa dizer que uma palavra ou frase "significa" uma coisa em particular e como esses significados são transmitidos quando nos comunicamos uns com os outros. Duas idéias populares sobre os significados remetem à Grécia antiga: Uma é que os significados são algum tipo de representação mental; outra é que o significado de uma expressão é puramente uma função de como ela é usada. Ambas as idéias lançaram trabalhos de pesquisa que estão ativos hoje. Juntaram-se à elas uma terceira abordagem, baseada em trabalhos de filósofos como Gottlob Frege e Bertrand Russell, que aplicam métodos formais derivados da lógica e tentam equacionar o significado de uma expressão com referência e as condições sob as quais ela pode ser julgada verdadeira ou falsa. Outros linguistas têm observado os princípios cognitivos subjacentes à organização do significado, incluindo os processos metafóricos básicos que alguns afirmam ver no cerne da gramática. E outros ainda examinam as maneiras pelas quais as sentenças são interligadas para formar um discurso coerente.

Uso da linguagem: O lado social da linguagem

Nos últimos 50 anos, houve uma crescente atenção ao lado social da linguagem, tanto quanto ao mental. O subcampo da sociolinguística veio em parte como consequência dos movimentos sociais pós-Segunda Guerra Mundial. Os movimentos de libertação nacional em países do terceiro mundo após a guerra, levantaram a questão sobre qual seria sua língua oficial após a independência, um tópico premente, já que quase todos eram multilíngues. Isso levou ao estudo acadêmico da situação da linguagem nos países do mundo. Além disso, os movimentos pelos direitos das minorias nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, levaram a um exame atento da variação social que complementa o trabalho anterior de variação geográfica. Os estudiosos empregaram as ferramentas analíticas da linguística no estudo de variedades não padronizadas, como o inglês vernáculo afro-americano e o espanhol chicano. E o movimento de mulheres levou muitos linguistas a investigar diferenças de gênero na fala e se nossa linguagem perpetua a desigualdade sexual.

Leituras Sugeridas

Harris, Randy A. 1993.As guerras linguísticas. Oxford: Oxford University Press.
Lepschy, Giulio C. 1972. Um levantamento da linguística estrutural. Londres: Faber e Faber.
Newmeyer, Frederick J. 1986. A política da linguística. Chicago: University of Chicago Press.
Robins, RH 1979. Uma breve história da linguística. Londres: Longman. 2 edn.
Texto original em:
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