A história da Linguística Moderna
por Frederick J. Newmeyer
O
campo da linguística moderna data do início do século XIX.
Enquanto as antigas Índia e Grécia possuíam uma notável tradição
gramatical, durante a maior parte da história a linguística fez
parte da filosofia, da retórica e da análise literária para tentar
descobrir como funciona a linguagem humana. Mas, em 1786, uma
descoberta surpreendente foi feita: há correspondências sonoras
regulares entre muitas das línguas faladas na Europa, na Índia e na
Pérsia. Por exemplo, o som "f" em inglês frequentemente
corresponde a um som "p" em, entre outros, latim e
sânscrito, uma importante língua antiga da índia:
INGLÊS LATIM SÂNSCRITO
father pater pitar
full plenus purnas
for per pari
Estudiosos
perceberam que essas correspondências - encontradas em milhares de
palavras - não poderiam ser devidas ao acaso ou à influência
mútua. A única conclusão confiável foi que essas línguas estão
relacionadas umas com as outras porque vêm de uma ancestral comum.
Grande parte da linguística do século XIX foi dedicada a descobrir
a natureza dessa língua materna, falada há cerca de 6.000 anos, bem
como as mudanças pelas quais a "proto-indo-européia",
como a chamamos agora, se ramificou para o inglês, russo, hindi, e
suas outras descendentes modernas.
Este
trabalho de linguística histórica continua até os dias atuais. Os
estudiosos conseguiram agrupar cerca de 5.000 idiomas do mundo em um
número de famílias linguísticas que compartilham uma ancestral
comum.
O estudo da estrutura da linguagem
No
início do século XX, a atenção voltou-se para o fato de que não
apenas a mudança de linguagem, mas também a estrutura da linguagem,
é sistemática e governada por regras e princípios regulares. A
atenção dos linguistas do mundo voltou-se cada vez mais para o
estudo da gramática - no sentido técnico do termo; a organização
do sistema de som de uma linguagem e a estrutura interna de suas
palavras e frases. Na década de 1920, o trabalho de "linguística
estrutural", inspirado em grande parte pelas idéias do suíço
Ferdinand de Saussure, estava desenvolvendo sofisticados métodos de
análise gramatical. Este período também testemunhou uma
intensificação do estudo acadêmico de línguas que nunca haviam
sido escritas. Já se tornara comum, por exemplo, um linguista
americano gastar anos trabalhando nas complexidades das gramáticas
Chippewa, Ojibwa, Apache, Mohawk ou alguma outra língua indígena da
América do Norte.
O
último meio século viu um aprofundamento da compreensão dessas
regras e princípios e o crescimento de uma convicção generalizada
de que, apesar de sua aparente diversidade, todas as línguas do
mundo foram, basicamente, cortadas do mesmo tecido. À medida que a
análise gramatical se tornou mais profunda, encontramos mais
semelhanças fundamentais entre as línguas do mundo. O trabalho
iniciado pelo linguista Noam Chomsky em 1957, vê esse fato como uma
consequência da "pré-formatação" do cérebro humano
para propriedades particulares da gramática, e portanto, limitando
drasticamente o número de possíveis linguagens humanas. Os
resultados desse trabalho têm sido a base para uma grande quantidade
de pesquisas linguísticas recentes, e também um dos mais
importantes pontos de controvérsia no campo. Livros e artigos de
periódicos rotineiramente apresentam evidências a favor ou contra a
ideia de que as propriedades centrais da linguagem são inatas.
Uso da Linguagem: Estudos de significado
Há
também uma longa tradição no estudo do que significa dizer que uma
palavra ou frase "significa" uma coisa em particular e como
esses significados são transmitidos quando nos comunicamos uns com
os outros. Duas idéias populares sobre os significados remetem à
Grécia antiga: Uma é que os significados são algum tipo de
representação mental; outra é que o significado de uma expressão
é puramente uma função de como ela é usada. Ambas as idéias
lançaram trabalhos de pesquisa que estão ativos hoje. Juntaram-se à
elas uma terceira abordagem, baseada em trabalhos de filósofos como
Gottlob Frege e Bertrand Russell, que aplicam métodos formais
derivados da lógica e tentam equacionar o significado de uma
expressão com referência e as condições sob as quais ela pode ser
julgada verdadeira ou falsa. Outros linguistas têm observado os
princípios cognitivos subjacentes à organização do significado,
incluindo os processos metafóricos básicos que alguns afirmam ver
no cerne da gramática. E outros ainda examinam as maneiras pelas
quais as sentenças são interligadas para formar um discurso
coerente.
Uso da linguagem: O lado social da linguagem
Nos
últimos 50 anos, houve uma crescente atenção ao lado social da
linguagem, tanto quanto ao mental. O subcampo da sociolinguística
veio em parte como consequência dos movimentos sociais pós-Segunda
Guerra Mundial. Os movimentos de libertação nacional em países do
terceiro mundo após a guerra, levantaram a questão sobre qual seria
sua língua oficial após a independência, um tópico premente, já
que quase todos eram multilíngues. Isso levou ao estudo acadêmico
da situação da linguagem nos países do mundo. Além disso, os
movimentos pelos direitos das minorias nos Estados Unidos e em outros
países ocidentais, levaram a um exame atento da variação social
que complementa o trabalho anterior de variação geográfica. Os
estudiosos empregaram as ferramentas analíticas da linguística no
estudo de variedades não padronizadas, como o inglês vernáculo
afro-americano e o espanhol chicano. E o movimento de mulheres levou
muitos linguistas a investigar diferenças de gênero na fala e se
nossa linguagem perpetua a desigualdade sexual.
Leituras Sugeridas
Harris,
Randy A. 1993.As
guerras linguísticas. Oxford:
Oxford University Press.
Lepschy,
Giulio C. 1972. Um
levantamento da linguística estrutural. Londres:
Faber e Faber.
Newmeyer,
Frederick J. 1986. A
política da linguística. Chicago:
University of Chicago Press.
Robins,
RH 1979. Uma
breve história da linguística. Londres:
Longman. 2 edn.
Texto original em:
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