segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Diabetes - Ingestão de açúcar e Câncer, existe alguma conexão?


Disseminando conhecimentos- Exercício de tradução


O açúcar, que torna todas as coisas deliciosas, pode causar câncer?
Um mecanismo biológico em células de levedura pode explicar a relação entre açúcar e tumores malignos, de acordo com um recente estudo publicado na revista Nature Communications.

O projeto de pesquisa, que durou nove anos, pode ter influência na medicina pessoal e nas dietas para pacientes com câncer, concluíram os autores. A pesquisa estudou atentamente o apetite por açúcar apresentado pelas células cancerosas.

Os cientistas entendem que as células cancerosas mantêm sua rápida reprodução por meio de um metabolismo à base da busca e fermentação da glicose, e a posterior fabricação de lactato.

Por outro lado, as células saudáveis ​​continuaram com a respiração normal, um processo no qual obtêm glicose, quebrando-a em dióxido de carbono e água.
Esta "mudança de processo nas células cancerosas, de respiração para a fermentação, é algo que foi descoberto por Otto Warburg, um bioquímico alemão, há cerca de 70 ou 80 anos", disse o microbiologista Johan M. Thevelein, autor principal do estudo e professor da KU Leuven na Bélgica. É conhecido como "o efeito Warburg."

A fermentação do açúcar para ácido lático produz cerca de 15 vezes menos energia que a produzida pela respiração, observou Thevelein. No entanto, as células cancerosas "crescem muito mais rapidamente do que as células normais, e as leveduras realmente apresentaram maior crescimento quando submetidas à fermentação", observou.
"Isso é estranho", disse ele, e levanta uma questão importante: o efeito Warburg é um sintoma do câncer - ou uma causa da doença?

Na busca da resposta, Thevelein e seus colegas fizeram experimentos com células de leveduras, uma vez que, do mesmo modo que as células de câncer, elas também são conhecidas por favorecer a fermentação sobre a respiração.
Os pesquisadores encontraram um composto intermediário que é um "potente ativador" da proteína RAS. O RAS é um proto-oncógene: um gene codificador de proteínas que ajudam a regular o crescimento celular e a diferenciação. Os proto-oncógenes podem se tornar oncógenes, ou genes causadores de câncer, na presença de mutações. As formas mutantes de proteínas RAS estão presentes em muitos tumores, disse Thevelein.
O novo estudo, então, revela "um ciclo vicioso", disse ele.

À medida que o açúcar é quebrado dentro das células, o composto intermediário ativa as proteínas RAS, e isso, por sua vez, estimula a proliferação celular.
Este ciclo observado em células de leveduras pode ajudar a explicar a agressividade do câncer.
"Muito interessante", disse Jennifer Ligibel, doutora e presidente do comitê de equilíbrio de energia da Sociedade Americana de Oncologia Clínica. Ainda assim, ela pede cautela na interpretação dessas descobertas.
"É importante não fazer muitas sinalizações com relação aos pacientes, tendo como base um estudo em leveduras", disse ela.

Comendo açúcar ou ganhando muito peso?

Embora os pesquisadores tenham identificado algumas semelhanças entre leveduras e células cancerosas humanas, Ligibel explicou: "é importante reconhecer que estamos um pouco distantes de termos células humanas de câncer em um tubo de ensaio."

O estudo mostrou apenas uma taxa aumentada de crescimento celular desencadeada pela glicose, disse ela. Mesmo que a equipe tenha demonstrado o modo como o RAS é ativado, isso "na verdade não resultou em células se replicando mais rapidamente ".
Ainda assim, os dados são "incríveis", reconheceu Ligibel, que também é professora de medicina na Harvard Medical School. "Esse é um dos primeiros estudos a fornecer um mecanismo biológico que poderia explicar a relação entre a glicose e a progressão do câncer.
"Quando pensamos sobre a relação entre açúcar e câncer - ao pensarmos sobre o que impulsiona o nível de açúcar no corpo de alguém - a questão se concentra principalmente na relação com o seu peso", disse Ligibel.
Quando as pessoas são mais pesadas, seus corpos administram o açúcar de uma forma diferente daquelas que não são consideradas acima do peso. Esse gerenciamento de açúcar é o que leva ao diabetes tipo 2, uma doença em que o açúcar no sangue é alto e os níveis de insulina, o hormônio que o corpo usa para administrar o açúcar no sangue, começa a aumentar porque o corpo torna-se resistente aos seus efeitos.
"Sabemos, já há algum tempo, que ter um maior nível de açúcar no sangue e um nível de insulina elevado no seu sistema, estão relacionados ao risco de desenvolver câncer", disse Ligibel.

Ao mesmo tempo, estudos que tentaram descobrir como ingerir açúcar poderia ter ligação com o risco de câncer " foram muito menos consistentes", disse ela. Um grande estudo em adultos mais velhos dos EUA, por exemplo, não encontrou relação entre a quantidade de açúcar que as pessoas consumiam e o risco de desenvolver câncer.
Por outro lado, ela observou,outros estudos mostraram que as pessoas diagnosticadas com câncer de cólon, que comiam uma maior proporção de suas calorias totais em açúcar, apresentaram maior risco de recorrência de câncer - mas apenas nas que já estavam com excesso de peso e obesas. Mais uma vez, o modo como o corpo gerencia o açúcar - e não o adoçante em si - pode ser a chave.

Estudos em pacientes com câncer de mama compararam as dietas com baixo teor de carboidratos à dietas com baixo teor de gordura, e descobriram que a quantidade de peso que as pessoas perderam, e não a própria dieta em si, era o que importava, disse Ligibel. Se resultasse em perda de peso, qualquer dieta provocava uma redução idêntica do açúcar na corrente sanguínea, além de uma redução idêntica da insulina.
"Se você conseguiu isso através de uma dieta ou de outra, não pareceu ser tão importante quanto a quantidade de peso que foi perdido, no caso de estar com excesso de peso ou obeso", disse ela. Traduzido em conselhos práticos a pacientes com câncer: "Se você tem alguém obeso ou com excesso de peso, ajudá-los a perder peso vai ser uma coisa importante. Nós sabemos disso com base em muitas outras linhas de estudo.
"Acredito que o açúcar definitivamente contribui para ganhar peso. E também creio que o açúcar não tem muito valor nutricional ", declarou Ligibel. Ainda assim, os pacientes com câncer precisam se concentrar em manter um peso saudável, equilibrando o exercício e os alimentos que comem.

O açúcar pode causar a obesidade que leva ao câncer

Perguntado se acredita que comer mais açúcar leva a mais câncer, Thevelein respondeu imediatamente: "Não! — De modo algum." Ele e seus co-autores não declaram isso no relatório; em vez disso, explicam como células normais e saudáveis ​​podem lidar com açúcar de forma controlada.
"Por outro lado, todos sabemos que quando você come muito açúcar, você tem uma tendência - que foi claramente demonstrada - em tornar-se obeso", disse Thevelein. "E a obesidade está ligada a um maior risco de câncer."

Embora seja "muito cedo para afirmar", Thevelein disse que ao ingerir muito açúcar durante um longo período de tempo, "talvez isso também possa levar, de alguma forma, à desregulação da proteína RAS nas células normais", e possivelmente é essa "desregulação"que desencadeie a mutação nos genes RAS.
"É melhor não ingerir muito açúcar, de modo que você não se torne obeso", disse ele. "E se, ao mesmo tempo, você também diminuir o risco de câncer, melhor - mas isso é algo que nós não podemos afirmar neste momento."

De qualquer forma, ele sugeriria que os pacientes com câncer ingiram menos açúcares simples, e mais açúcares complexos como os encontrados no amido e grãos integrais. Os açúcares complexos são liberados mais lentamente, e absorvidos da mesma forma pelo corpo, e isso pode ser útil para pacientes com câncer.
"Essa seria a nossa mensagem", Thevelein disse: "Tente procurar maneiras alternativas de fornecer açúcar e energia aos pacientes com câncer, ao invés de açúcares simples que são metabolizados rapidamente."

Gostou? Acha que poderia ser útil para mais alguém? Enriqueça suas redes sociais compartilhando num dos ícones abaixo (facebook, google +, twitter).

Texto original em inglês, clique aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário