Entrevista de João Caraça (Fundação Calouste Gulbenkian) - revista de bordo da TAP em outubro de 2014.
PARA QUE SERVE A COMUNICAÇÃO - uma tradução da versão em inglês do artigo de JOÃO CARAÇA (Fundação Calouste Gulbekian), publicado na revista de bordo da TAP-outubro de 2014. Portugal.
A onipresença da comunicação tem gerado um efeito paradoxal: já não basta "saber fazer bem alguma coisa", atualmente é preciso "ser reconhecido" por fazer isso.
Não sendo assim, desaparecemos. Ninguém se lembrará de nós. A falta de visibilidade é uma sentença de morte. Em outras palavras, nos dias de hoje não existem profissões, artes, atividades comerciais, organizações, hierarquias ou sistemas que não sejam afetados pela comunicação; desde democracias representativas, onde todo o cenário político é inevitavelmente retratado na mídia, às inovações, onde os aspectos tecnológicos se associam inexoravelmente à publicidade.
Nunca antes houve comunicação à distância, além das fronteiras, montanhas e vales, de forma tão intensa e diversificada. Até então, nunca havíamos experimentado tão intensamente, em som e imagem, os gostos daqueles que não compartilham conosco a mesma linguagem, cultura ou visão de mundo. São novas realidades que nos forçam a questionar nossas crenças e a natureza dos estilos de vida aos quais estamos acostumados, as organizações sociais e as relações mútuas. Inevitavelmente somos levados a nos imaginar nos sapatos alheios e a comparar situações.
Imitar ou sobrepujar os outros é a fonte básica para a inovação social. Nas palavras de Ilya Prigogine(ganhador do prêmio Nobel de química de 1977), "sociedades não mudam em razão do envelhecimento de seus componentes, mas sim, principalmente em razão de alterações nas relações entre eles."; novos padrões de comportamento, novas comunicações, novas mentalidades.
Mudanças somente ocorrem quando há confiança no futuro e no papel das novas gerações. Sempre há um componente de aprendizado no processo de mudança social, que é a adaptação à essa mudança. E é isso que fortalece a sociedade para aplicar as inovações e assimilá-las, dando início a novos processos de transformação e aprendizados em outro nível. É assim sucessivamente.
Nenhuma sociedade é capaz de se renovar sem um processo de aprendizagem, pois que somente uma parte de sua capacidade técnica e das ferramentas à disposição são utilizadas por ela. Ao partir de forma fraca, em termos de capital humano, para novos processos de mudança, cria e perpetua-se uma "lacuna" que, por algum tempo, os privilegiados do país apregoam como atávica e natural; até porque preserva de contestação esses privilégios conquistados...
Desenvolvimento leva tempo. Durante o processo de transformação, alguns países lidam melhor com as mudanças sociais do que outros, não somente em razão de que inovações tecnológicas são geradas e disseminadas mais rapidamente, mas também porque tais países possuem processos de aprendizagem mais eficazes - talvez resultado de adaptação a um passado com mudanças mais constantes.
Isso justifica a importância de um sistema de treinamento-educação para o mundo moderno. Atacar essa premissa significa um atraso imperdoável. O conhecimento nos permite defender nossas identidades, perceber os contornos e detalhes de cada situação, e antever as mudanças do mundo onde vivemos.
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