quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

 


Como Aristóteles fez o mundo retroceder quase 2.000 anos

E como o mundo seria hoje se ele tivesse se afastado da ciência

Tradução: Eduardo Vargas

Eu já escrevi sobre O Filósofo, como costumavam o chamar. Naquele breve post, apresentei a filosofia exemplar dele e, em particular, a visão sobre a amizade e seus diferentes tipos:

Aristóteles era um rapaz ocupado. Não se contentava em abordar apenas a “filosofia
moral”, como era chamada tal matéria na Grécia antiga. Entre outros tópicos, também
escreveu sobre política e filosofia natural, o antigo termo grego para ciência.

No entanto, ele tratou a ciência de uma forma explicitamente não-científica.

A definição de ciência é fazer previsões e observações testáveis. No entanto, Aristóteles nunca testou suas teorias “científicas”. Provavelmente, pensava que não havia necessidade.

Alguns podem achar que meu título é algo do tipo, um clickbait, ou altamente exagerado. Afinal, não há como saber como teria sido o mundo se Aristóteles não tivesse infectado a ciência com seu prestígio (não injustificado), herdado da filosofia.

O que eu sei é que Aristóteles se tornou mesmo um desastre para a ciência, assim como Platão e alguns neoplatônicos—além de certos luminares como Hipatia—foram para a filosofia.


A “abordagem científica” de Aristóteles foi um caminho que desembocou na Idade Média cristã em termos de ciência astronomia e cosmologia em particular— com Platão e muitos neoplatônicos fornecendo apoio filosófico com uma toxicidade que negava o mundo físico via idealismo platônico.

Fui inspirado a escrever este artigo enquanto comentava sobre um artigo de Kate Granger,

e não como um complemento à minha breve abordagem anterior sobre Aristóteles. Em seu artigo, ela abordou a Grécia antiga e eu comecei a reclamar sobre nem tudo ser sol e arco-íris.

Então, para poupá-la e aos seus leitores, decidi escrever um artigo adequado sobre isso. Escrevi na seção de comentários do artigo dela que, se Aristóteles tivesse se afastado da ciência - como seu professor Platão fortemente aconselhou - poderíamos já ter alcançado as estrelas.

Meu cético interior questiona isso.
Um único homem é tão importante assim?, o cético pergunta. Então, deixemos quieto esse pensamento, enquanto sugerimos alguns contra-argumentos.

A contribuição de Aristóteles e Platão para o retrocesso do mundo foi involuntária. Eles não podiam prever o futuro. Não podiam prever, em particular, que a Igreja Cristã—em grande parte seu ramo católico romano—amaria suas obras devido à compatibilidade que tinham com a Bíblia.

A contribuição "mais importante" de Aristóteles para a “ciência” foi seu geocentrismo. Essa mente brilhante realmente pensava que a Terra era o centro do universo, com o Sol e todas as estrelas girando em torno dela.

Qual outro texto menciona isso? Gênesis do Antigo Testamento. Uma vez que a Bíblia foi considerada - e ainda é por alguns - como literalmente a palavra de um Deus onisciente, não poderia ter sido de outra forma.

Portanto, o geocentrismo de Aristóteles foi agressivamente promovido pelas poderosas autoridades cristãs no Ocidente. Todas as outras teorias foram consideradas blasfemas ou heréticas. Se Gênesis e O Filósofo dizem que a Terra é o centro do universo, todas as outras sugestões estão fora de questão.

Mas você não pode progredir na astronomia, muito menos em sua irmã cosmologia, começando com uma premissa falsa. Se suas noções básicas de astronomia são falsas, a maior parte do que você propor mais tarde também será falso.

Existiram teorias alternativas na antiguidade? É claro que sim; Aristarco de Samos apresentou o primeiro modelo heliocêntrico correto apenas um século depois de Aristóteles. Mas ninguém o levou a sério na época - nem mesmo seus companheiros gregos antigos - já que ele era quase um joão-ninguém.

Como poderia Aristarco estar correto? Isso significaria que O Filósofo estaria errado!😱 Não, de jeito nenhum, mesmo que a matemática e o modelo de Aristarco fizessem muito mais sentido. Esse é um clássico caso de um argumento oriundo de falácia autoritária.
Desconsiderando todos os dados, o senso comum e a própria realidade simplesmente porque uma “autoridade” - mesmo
sendo de outra área - alegou o contrário.

Essa falácia foi corrigida por Nicolau Copérnico, quase 2.000 anos depois, ao redescobrir o modelo heliocêntrico de Aristarco. Ele desenvolveu seu próprio modelo de forma mais rigorosa, uma vez que o mundo havia progredido, um pouco, ao longo dos dois milênios anteriores.

Alguns, como Galileu Galilei, provaram que outra teoria “científica” trivialmente testável de Aristóteles—que objetos maiores caem mais rápido—era falsa, simplesmente jogando uma pedra pequena e outra grande da Torre de Pisa, que pousaram ao mesmo tempo.

É necessário um tipo particular de arrogância para tratar a ciência como filosofia e fazer “ciência” apenas com a mente, mas foi precisamente isso que Aristóteles fez. Talvez, quando todos o tratem como “Mestre disso” e “Mestre daquilo”, isso acabe por lhe subir à cabeça.

Os gregos antigos sabiam o valor das provas da matemática e, por isso, testar uma teoria não era algo estranho para eles.

Então, vamos supor um grande ‘E se?’
E se o modelo heliocêntrico correto de Aristarco de Samos tivesse sido adotado em detrimento do modelo geocêntrico de Aristóteles? Quanto o mundo teria mudado?

Mesmo contradizendo o que a Bíblia pregava, talvez pudesse ter prevalecido de alguma forma no Ocidente. Isso teria reduzido o poder e a influência da igreja cristã, levando assim a uma Idade das Trevas mais curta ou mais branda?

Há muitas variáveis a serem consideradas. De qualquer maneira, demasiadas até para abordar neste artigo de leitura rápida de 5 minutos. Talvez a igreja cristã tivesse perseverado em nos empurrar goela abaixo o geocentrismo.

Talvez tudo tivesse mudado, estaríamos agora muito à frente tecnologicamente e, quem sabe, explorado todas as estrelas dentro de um raio de 100 anos-luz. Talvez nada tivesse mudado. Afinal, a “ciência” de Aristóteles mal afetou o Extremo Oriente.

Outra variável que vale a pena considerar é o que teria acontecido se Platão e os neoplatônicos não tivessem influenciado o pensamento cristão, mas para isso precisamos mergulhar ainda mais fundo.

O idealismo platônico e sua efetiva negação da “realidade física” em favor de um “Reino das Ideias” espiritual não testável, acabou sendo muito compatível com as tendências niilistas do cristianismo.

Renunciar ao “mundo material pecaminoso” em favor de um evasivo “depois da vida” é o retrato do cristianismo — ou, pelo menos, essa é a visão de certos fundamentalistas que negam a vida (embora apregoem ostensivamente o “pró-vida”).

Platão e Aristóteles forneceram sobriedade para diferentes aspectos do cristianismo. Aristóteles não era um idealista, era em grande parte um realista. Não na medida dos filósofos materialistas pré-socráticos - a era de ouro da filosofia grega antiga, antes de Platão e seu porta-voz decadente Sócrates a corromperem—mas ainda assim ele se afastou do idealismo de Platão.

Uma vez que isso já se prolongou por bastante tempo, eu poderia desenvolver o acima "E se?" em uma história separada. Talvez em formato de ficção histórica alternativa, tipo uma novela. Ou mais. Vou avaliar. Fico tonto com a pesquisa necessária, mas gosto de desafios.

Fonte: https://medium.com/the-geeky-pub/how-aristotle-set-the-world-back-almost-2-000-years-7251f6fd0292

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