O que a linguística pode nos ensinar sobre falar com extraterrestres
Amy
Adams e um personagem alienígena no filme A
Chegada.
Foto:
PHOTOFEST, Arrival © 2016 Paramount PicturesA Linguista Sheri Wells-Jensen explica as armadilhas em nossas suposições sobre extraterrestres
9 de outubro de 2018
Traduzido por Eduardo
Rodrigues
De
Adam Mann
No
filme A Chegada, de 2016, alienígenas com motivos inescrutáveis
descem à Terra - e cabe a uma cientista, interpretada por Amy Adams,
ajudar na comunicação com eles. Se isso acontecesse na vida real,
provavelmente seria Sheri Wells-Jensen quem receberia tal missão.
Linguista da Bowling Green State University, Wells-Jensen pensou
muito sobre o quão diferentes as mentes alienígenas poderiam ser.
Muitos
pesquisadores presumiram automaticamente que extraterrestres
possuiriam sentidos como os que a maioria de nós usa diariamente.
Mas a experiência sensorial de Wells-Jensen sobre o mundo - como uma
pessoa cega - deu-lhe uma rara perspectiva quando se trata de
imaginar as alternativas e o que elas podem significar para a
capacidade humana de entender os alienígenas.
Scientific
American falou com Wells-Jensen sobre linguagem, alienígenas em
forma de caranguejo, e maneiras multidimensionais de interpretar o
mundo. Segue um trecho editado da conversa.
Se
esperamos encontrar uma língua alienígena, temos que começar a
pensar sobre o que seria a linguagem, como a reconheceríamos e como
ela poderia ser diferente do que nos acostumamos. Precisamos criar um
monte de hipóteses malucas e começar a pensar fora de nossa caixa.
Em
2014, recebi um telefonema para falar com o Instituto SETI [Search
for Extraterrestrial Intelligence] e estava tentando me atualizar
sobre o assunto. E uma das premissas que encontrei é que alguma
civilização extraterrestre acabaria por ser avistada. Estou
tentando quebrar essa caixa. A coisa perigosa sobre pressupostos é
que você não sabe que os está fazendo.
Para
mim, isso se liga a muitas outras questões antropológicas sobre
como nos tratamos mutuamente. Se nós, como espécie, não podemos
sequer lidar com pequenas diferenças como raça e gênero, por que
pensamos que nos daremos bem com alienígenas em forma de caranguejo,
por exemplo? Podemos ser bondosos e empáticos um com o outro, o que
é uma tarefa pequena comparada a dizer: “É, vamos dar as
boas-vindas aos alienígenas em forma de caranguejo com seus
intestinos do lado de fora de seus corpos e que mastigam com a boca
aberta”?
Eu
posso dar-lhe um monte de pequenos exemplos - a palavra para "ver"
também significa "entender" em alguns idiomas. Ou temos
palavras para “esquerda” e “direita”, “para frente” e
“para trás” - meio que em quatro direções, que estão
correlacionadas com a simetria do corpo humano. Mas se tivéssemos
três mãos, teríamos “esquerda”, “direita” e, “a outra
mão”?
Essa
é uma pergunta que me fascina. A estrutura da ASL (American Sign
Language) está amplamente adequada às mesmas regras da linguagem
falada, exceto que você pode fazer mais coisas simultaneamente. Mas
não é alienígena. É reconhecidamente uma linguagem humana, e
todos nós podemos aprender isso. E as pessoas cegas podem aprender
as línguas das pessoas de visão normal ao seu redor. Uma das
perguntas que tenho é: quão diferente a forma do seu corpo tem que
ser para realmente testar essa hipótese?
Corpos
alienígenas podem ser muito diferentes dos nossos. Eles poderiam
usar sonar e viver na água, por exemplo - e ter essa terceira mão.
Exatamente.
Por exemplo, posso imaginar direita, esquerda e outra direção
chamada “squirk”. Levaria um tempo para aprendê-la fluentemente,
mas sinto que poderia aprender. Mas até onde você pode que ir antes
que isso se choque com a incompreensibilidade? Pode ser que linguagens
alienígenas se tornem cada vez mais difíceis de entender à medida
que as formas dos corpos sejam diferentes. Essa barreira realmente
existe? Por exemplo, "Não, meu cérebro não pode fazer isso"?
As duas linguagens seriam para sempre incompatíveis? Temos que
exercitar o pensamento nesses exemplos - até dos que não gostamos.
Para
mais ótimas histórias, visite Scientific
American.
©
2018, Scientific American, uma divisão da Springer Nature America,
Inc. Todos os direitos reservados.
Distribuído
pelo The New York Times Licensing Group
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