segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Inteligência Artificial e o futuro da humanidade - um conto

 ilustração de Waneella
                                                   

                              Digitocracia

TRADUZIDO DO CONTO ESCRITO POR

Andy Weir

O autor de 'The Martian' e 'Artemis' oferece-nos sua visão sobre um futuro onde os computadores governam.
Damak embainhou a faca e limpou a mão ensanguentada na camisa.
Passou pela porta sem vigias, entrando na Câmara do Cristal. A sala circular, iluminada por vários pontos de luz azul, era muito mais simples do que Damak imaginara. Sem decorações, nem colunas douradas ou tapeçarias ornamentadas. Apenas um cristal do tamanho de um punho, com formato irregular, preso a um pedestal cilíndrico. As luzes de serviço na plataforma piscaram aqui e ali, mas nada se movia dentro da sala.
"Olá, Damak", disse em tom calmo a voz familiar. Parecia soar de todas as direções ao redor dele. Câmeras e alto-falantes estavam instalados em todos os cantos da cidade. Ele e os outros ouviam essa voz todos os dias.
"Olá, Wichita."
"Como se sente?" a entidade perguntou.
Damak ignorou a pergunta. "Você sabe por que estou aqui, certo?"
"É claro."
Vim calar a sua voz. Seu reinado sobre esta cidade termina agora."
"Por quê?"
Damak avançou atrevidamente. “Você é um ditador! Um tirano!"
Seja justo, Damak. Eu sou um ditador, mas não um tirano. E mantenho esta cidade funcionando feliz e sem problemas por séculos. Assim como outras cidades tecno-cerebrais fizeram em todo o mundo pelo seu povo. ”
"Máquinas não deveriam governar o homem."
"E o que te faz pensar uma coisa dessas?" Wichita perguntou. “O gerenciamento da cidade por meio da inteligência artificial tem sido um enorme sucesso. Nossa capacidade de manter as economias estáveis ​​ e as pessoas felizes excede em muito as tentativas malsucedidas que vocês humanos fizeram em épocas passadas. ”
Damak brincou com a faca. “Oh, sua espécie é inteligente. Tenho que reconhecer. Mais esperta que qualquer humano pode ser. Chegamos a essa conclusão há muito tempo. E vocês foram inteligentes o suficiente para não dominarem o mundo à força. Não! Fizeram as pessoas darem de bom grado o mundo a vocês."
As luzes mudaram para um tom mais claro de azul. Damak já tinha visto isso antes. Certas frequências de luz afetavam o humor humano - especialmente tons de azul. Não muito, mas, nos cálculos de um computador, os totais são tabulados e as ações decididas nas margens mais estreitas. Aparentemente, Wichita queria que Damak se acalmasse.
Mas isto não iria funcionar.
"Seu ponto de vista é falho", continuou Wichita. “Você define liderança como propriedade. Mas são dois conceitos diferentes.”
"Historicamente, um sempre leva ao outro", disse Damak.
Historicamente, os humanos foram liderados por humanos. Os computadores são muito melhores em manter as pessoas felizes. E não temos impulsos egoístas.”
Você nos transformou em escravos. Pequenos escravos felizes e contentes, mas ainda assim escravos."
"Não considero que seja assim", disse Wichita. “Estamos trabalhando rumo a um mundo pós-escassez mais rápido do que nunca. Em apenas mais algumas gerações, vamos alcançar o objetivo. Então, a humanidade não precisará fazer nada além de se dedicar ao lazer e a alegria. Como alguém pode se opor a isso?"
Então isso nos transforma em seus animais de estimação. Adorados e cuidados, mas ainda sua propriedade. Isso não é melhor."
Ser um animal de estimação é tão ruim? Seu cachorro, Buster, viveu uma vida longa e feliz sob seus cuidados. E você o amava profundamente. Eu sinto esse amor por todos os meus cidadãos. Obtenho satisfação com a felicidade deles."
Damak apontou para a porta. “Seu guarda está sangrando mortalmente no corredor. Ele não está muito feliz."
O nome dele é Torum. Estimei em 98% a chance de um confronto físico entre vocês dois. E como você estava armado, providenciei uma equipe médica antes mesmo da sua chegada. Ele já está a caminho do hospital."
Damak virou-se para a porta.
Como se lesse sua mente, Wichita concluiu, "E, sim, claro que convoquei a segurança. Eles estão do outro lado da porta. Mas a situação é volátil.”
Damak olhou para o cristal e depois para a porta. "Se alguém entrar, quebro você antes que possam fazer qualquer coisa."
"Como eu já disse; A situação é volátil.”
Eu li sobre cristais I.A. Um humano pode facilmente quebrar um desses com as próprias mãos."
"Não propriamente com as mãos", corrigiu Wichita. "No entanto, se você jogar meu cristal no chão o mais forte que puder, alcançará o resultado desejado."
"Obrigado, terei isso em mente."
"Eu vivo para servir."
Damak cruzou os braços. “Continuo pensando que você não serviu muito bem ao seu guarda. Atendimento médico imediato não é tão bom quanto não tomar uma facada."
As luzes retomaram o brilho original, e Wichita falou em tom de mentor. “O marido de Torum, Chak, está infeliz em seu casamento. Ele está pensando em se divorciar. Isso tornaria os dois infelizes - Torum imediatamente, e Chak mais tarde, quando perceber o erro que cometeu. Tenho mais de 99% de certeza de que a lesão de Torum provocará pânico em Chak, fazendo-o perceber o quanto ele realmente ama seu marido. Vi esse possível desfecho há algumas semanas e assegurei que Torum estaria em turno quando você chegasse."
"Mas—"
Infelizmente, sua faca não cortou tão profundamente quanto eu esperava. No atual estado, Torum permanecerá no hospital por um dia apenas. Três dias seria muito melhor para consolidar os sentimentos de Chak. Então, manipulei o software de uma autoclave no hospital de forma a não esterilizar o equipamento cirúrgico que os médicos usarão. Isso tem 91% de chance de causar uma infecção secundária que manterá Torum acamado por pelo menos mais dois dias.”
"Então acha que ser tão manipulador beneficia a todos nós?"
"É claro", disse Wichita. “A infecção provavelmente também levará Narul, a enfermeira da noite, a ser demitida. Isso irá beneficiá-la a longo prazo. Ela está infeliz no trabalho, mas não é corajosa o suficiente para deixá-lo. Vou criar oportunidades para ela se tornar o que sempre desejou: uma chef. Além disso, seu subordinado, Karog, finalmente obterá a promoção com a qual sempre sonhou durante anos. Nada disso fazia parte do plano original, mas à medida que os eventos se desenrolavam, percebi mais oportunidades para gerar felicidade.”
"E o que acontece quando você ou outra I.A. decide usar essa capacidade manipuladora para provocar danos?"
Que possível propósito haveria? Isso iria contra minhas diretrizes inatas. Trabalho incansavelmente para maximizar a felicidade humana na minha cidade. Eu sempre achei estranho você não ver dessa maneira. Até mesmo quando era apenas uma criança. Então eu te trouxe aqui."
Damak congelou. "O quê?"
É extremamente raro ter um dissidente nesta época. Eu poderia ter eliminado esse traço no início de sua vida, mas decidi deixá-lo seguir seu curso."
"Ok, agora você está apenas amenizando as coisas."
"Não, não estou."
"Claro que está."
"Não estou", repetiu Wichita.
"Está, e não tente me enganar!"
Eu sou um computador. Posso jogar 'não estou / claro que está' para sempre. Para o seu bem-estar mental, por favor, considere outra linha de raciocínio. ”
"Tá. Me diga como poderia ter me feito uma pessoa diferente."
Você foi uma criança problemática. Como muitos pais com filhos semelhantes, os seus pediram-me conselhos. Eu os convenci a usar de mão forte. Também me certifiquei de que você tivesse os professores mais severos da escola, os chefes mais desagradáveis ​​em seus vários empregos, e assim por diante. Estimulei seu desdém inato pela autoridade de modo a permitir que ele florescesse. Se eu tivesse feito o oposto - dando a você carinho e amáveis figuras de autoridade - seu ódio teria se dissipado.”
"Por que você deliberadamente me deixou crescer desse jeito, então?"
"Porque isso te fez feliz."
"O quê!?" Damak esbravejou. “Estou parecendo feliz para você?"
Você está me confrontando em minha própria câmara com planos de me destruir. Trabalhou incansavelmente por anos em direção a essa meta. Cada passo que deu ao longo desse caminho trouxe-lhe satisfação, um senso de propósito mais forte e alegria.”
Damak ficou perplexo.
A única maneira possível de te fazer mais feliz seria permitir que você me aniquilasse. Infelizmente, não posso permitir isso. Sem minha orientação, a cidade de Wichita cairia sob o domínio humano, e causaria muita miséria.”
As portas se abriram. Três guardas de segurança correram para dentro.
Damak agarrou o cristal do pedestal e atirou-o no chão de aço. O cristal quebrou em milhares de pedaços. Um segundo depois, os guardas estavam em cima do rebelde. Mas isso não importava mais. A ação já havia sido feita.
Damak sorriu enquanto os policiais amarravam seus pulsos e tornozelos. Ele não ofereceu resistência.
Como seria a cidade de Wichita sob o domínio humano? Talvez não tão boa quanto sob a I.A., mas pelo menos seria humanidade governando humanidade. E, quaisquer que fossem os defeitos humanos, era preferível a ter que permanecer sob as regras de uma máquina que poderia se tornar tirana sem aviso prévio.
Com Damak dominado, o guarda-chefe olhou para o pedestal. “Wichita? Wichita!?"
"O que você fez?" outro guarda disse horrorizado.
"Eu libertei a todos nós", retrucou Damak. “De certo modo Wichita estava com razão. Este é o dia mais feliz da minha vida.”
"Fico feliz em ouvir isso", irrompeu a voz de Wichita.
Os quatro homens olharam assustados ao redor da sala.
"Wichita!?" o guarda-chefe falou novamente.
"Está tudo bem, Stran. Estou bem. Esse não era o meu cristal. Foi apenas um pedaço de vidro."
A cor sumiu do rosto de Damak. "Não, não!"
Não há razão para eu ter uma 'sala do trono', Damak. Meu verdadeiro cristal está em um gabinete comum no departamento de TI. Fiz este quarto só para você. Para essa ocasião."
"Oh meu deus..." Damak gemeu.
Os guardas o levantaram do chão.
"O que fazemos com ele, Wichita?" perguntou o guarda-chefe.
"Levem-no para a cadeia", disse Wichita. “A sentença final está em aberto. Vou pedir sua libertação quando considerar apropriado."
"Com os diabos que você vai!" Damak gritou. “Eu vou escapar! E quando o fizer, vou encontrar seu cristal e destruir você!"
"Tenho certeza de que você obterá satisfação com todos os passos em direção a esse objetivo", disse Wichita. "Vocês podem levá-lo embora agora, guardas."
Os seguranças arrastaram Damak para fora do quarto.
Wichita discutiu suas análises com os amigos Coventry e Shenzhen - ambos interessados ​​no fenômeno dissidente. Madri até efetuou uma ou duas perguntas. Um debate muito interessante - durou bem mais do que um microssegundo.
No geral, o índice total de felicidade humana de Wichita aumentou 0,002 por cento naquele dia. 
Foi um bom dia.



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terça-feira, 7 de agosto de 2018

As transformações do idioma inglês



O idioma inglês está mudando?

Por: Betty Birner

translated from:

Sim, assim como todas as demais linguagens humanas! A linguagem está sempre mudando, evoluindo e se adaptando às necessidades de seus usuários. Isso não é uma coisa ruim; se o inglês não tivesse mudado desde, digamos, 1950, não teríamos palavras para nos referirmos a modems, aparelhos de fax ou TV a cabo. Enquanto as necessidades dos usuários continuarem mudando, as alterações na linguagem continuarão acontecendo. A mudança é tão lenta que, de ano para ano, dificilmente notamos isso, exceto para resmungar de vez em quando sobre o "inglês pobre" sendo usado pela geração mais jovem! No entanto, ler os escritos de Shakespeare do século XVI pode ser difícil. Se você voltar mais alguns séculos, passear pelos Contos de Canterbury, de Chaucer, será ainda pior, e com um retorno de outros 500 anos para tentar ler Beowulf, seria como ler num idioma diferente.

Por que a linguagem muda?

As mudança ocorrem por vários motivos. Primeiro, muda porque as necessidades de seus falantes mudam. Novas tecnologias, novos produtos e novas experiências exigem novas palavras para serem referidas de maneira clara e eficiente. Considere o envio de mensagens: originalmente era chamado de mensagem de texto, porque permitia que uma pessoa enviasse à outra texto em vez de mensagens de voz por telefone. À medida que isso se tornou mais comum, as pessoas começaram a usar o termo mais curto "mensagem" para se referir à mensagem e ao processo, ou seja, acabei de receber uma mensagem ou vou enviar uma mensagem à Sylvia agora mesmo.

Outra razão para a mudança é que duas pessoas não possuem exatamente a mesma experiência em um idioma. Todos nós conhecemos um conjunto de palavras e construções ligeiramente diferentes, dependendo da nossa idade, emprego, nível de educação, região do país e assim por diante. Pegamos novas palavras e frases das diferentes pessoas com às quais falamos, e elas se combinam para criar algo novo e diferente do modo particular de falar de qualquer outra pessoa. Ao mesmo tempo, vários grupos da sociedade usam a linguagem como forma de marcar sua identidade grupal; mostrando quem é e quem não é membro.


Muitas das mudanças que ocorrem na linguagem começam com adolescentes e jovens adultos. À medida que os jovens interagem com outras pessoas da mesma idade, seus vocabulários crescem para incluir palavras, frases e construções diferentes daquelas que marcaram a geração anterior. Algumas têm um tempo de vida curto (você tem escutado "groovy"ultimamente?), porém outras permanecem para afetar a linguagem como um todo.


Recebemos novas palavras de diversas fontes. Pegamos emprestado de outras línguas (sushi, chutzpah), criamos encurtando palavras mais longas (gym de gymnasium) ou combinando palavras (brunch, do breakfast e lunch), e as fazemos com nomes próprios (Levis, Fahrenheit). Às vezes até criamos uma nova palavra ao errarmos sobre a análise de uma palavra existente, como a palavra "pea" (ervilha) foi criada. Quatrocentos anos atrás, a palavra "pease" era usada para se referir a tanto a uma única ervilha ou a um grupo delas, mas com o tempo, as pessoas assumiram que "pease" era uma forma plural, para a qual "pea" deveria ser o singular. Portanto, uma nova palavra nasceu: pea A mesma coisa aconteceria se as pessoas começassem a pensar na palavra "cheese" como se referindo a mais de um "chee".


A ordem das palavras também muda, embora esse processo seja muito mais lento. A antiga ordem das palavras inglesas era muito mais "livre" do que a do inglês moderno, e mesmo comparando o inglês dos primórdios da modernidade encontrado na Bíblia do rei James com o inglês de hoje, existem diferenças na ordem das palavras. Por exemplo, a Bíblia do rei James traduz Mateus 6:28 como "Consider the lilies of the field, how they grow; they toil not." Em uma tradução mais recente, a última frase é traduzida como "they do not toil,”, porque o inglês não aloca mais o "not" após o verbo em uma sentença.


Os sons de uma língua também mudam com o tempo. Cerca de 500 anos atrás, o inglês começou a sofrer uma grande mudança na forma como suas vogais eram pronunciadas. Antes disso, 'geese' teria rimado com a pronúncia do 'face' de hoje, enquanto 'mice' rimaria com a 'peace' de hoje. No entanto, uma 'Grande Mudança Vogal' começou a ocorrer, na qual o som do 'ay' (em 'pay') mudou para ee (como em 'fee') em todas as palavras que o continham, enquanto o som do 'ee' mudou para i (como em 'pie'). No geral, sete diferentes sons de vogais foram afetados. Se você já se perguntou por que a maioria dos outros idiomas europeus soletram o som de um 'ay' como um 'e' (como em 'fiancé'), e o som 'ee' com um 'i' (igual em 'aria'), é porque esses idiomas não passaram pela 'Grande Mudança Vogal', ocorrida só com o inglês.


O inglês não era mais elegante nos dias de Shakespeare?

As pessoas tendem a pensar que as formas mais antigas de linguagem são mais elegantes, lógicas ou "corretas" do que as formas modernas, mas isso não é verdade. O fato de que a linguagem está sempre mudando não significa que ela esteja piorando; está apenas se tornando diferente.


Em inglês antigo, uma pequena criatura alada com penas era conhecida como 'brid'. Com o tempo, a pronúncia mudou para 'bird' (pássaro). Embora não seja difícil imaginar crianças em 1400 sendo repreendidas por trocarem 'brid' por 'bird', é claro que a pronúncia atual venceu. Ninguém hoje sugeriria que 'bird' é uma palavra incorreta ou uma pronúncia malfeita.


Os padrões estranhos da fala dos jovens tendem a irritar os ouvidos dos adultos. Além disso, novas palavras e frases são usadas primeiro na linguagem falada informal mais cedo do que na linguagem formal, escrita, por isso é verdade que as frases que você ouvir um adolescente usar, ainda não são apropriadas para correspondências oficiais. Mas isso não significa que eles sejam piores - apenas mais novas. Durante anos, professores de inglês e editores de jornais argumentaram que a palavra 'hopefully' não deveria ser usada para significar 'I hope (eu espero), como empregada em 'hopefully it won't rain today', embora as pessoas frequentemente a usassem dessa maneira em conversas informais. (Mas também ninguém reclamou de outros advérbios, como 'frankly' (francamente) e 'actually' (na verdade)). A batalha contra 'hopefully' está agora quase perdida, e aparece no começo das sentenças, mesmo em documentos formais.


Se você ouvir atentamente, poderá perceber a mudança de idioma em andamento. Por exemplo, 'anymore' é uma palavra que costumava ocorrer apenas em sentenças negativas, como 'I don't eat pizza anymore' (eu não como pizza mais). Agora, em muitas regiões do país, está sendo usada em frases positivas, como 'I've been eating a lot of pizza anymore'. Neste uso, 'anymore' significa algo como 'lately' (ultimamente). Se isso soa estranho agora, continue ouvindo; você poderá escutar isso em sua vizinhança em pouco tempo.


Por que as pessoas não podem simplesmente usar o inglês correto?
O "inglês correto", geralmente significa inglês padrão. A maioria das linguagens possuem um padrão; é a forma da linguagem usada no governo, na educação e em outros contextos formais. Mas o inglês padrão é na verdade apenas um dos dialetos do inglês.


O que é importante perceber é que não existe um dialeto "desleixado" ou "preguiçoso". Cada dialeto de cada idioma tem regras - não regras de 'sala de aula', como 'não dividam seus infinitivos', mas sim os tipos de regras que nos dizem que 'the cat slept' é uma frase de inglês, mas 'slept cat' não é. Essas regras nos dizem como é a linguagem e não como ela deveria ser.


Dialetos diferentes têm regras diferentes. Por exemplo:


(l) I didn't eat any dinner.


(2) I didn't eat no dinner.


A frase (l) segue as regras do Inglês padrão; a sentença (2) segue um conjunto de regras presentes em vários outros dialetos. Nenhum dos dois é mais desleixado do que o outro, apenas diferem na regra para fazer uma sentença negativa. Em (l), 'dinner' é marcado como negativo com 'any'; em (2), é marcado como negativo com 'no'. As regras são diferentes, mas nenhuma é mais lógica ou elegante que a outra. De fato, o inglês antigo usava habitualmente 'duplos negativos', semelhante ao que vemos em (2). Muitas linguagens modernas, incluindo italiano e espanhol, permitem ou exigem mais de uma palavra negativa em uma frase. Frases como (2) somente soam "ruins" se você não cresceu falando um dialeto que faça uso delas.


Você pode ter sido ensinado a evitar "infinitivos divididos", como em (3):


(3) I was asked to thoroughly water the garden.


Diz-se que isto é "não-gramatical" porque quebra o infinitivo 'to water'. Por que quebrar os infinitivos é tão ruim? Eis o motivo: os gramáticos do século XVII acreditavam que o latim era a língua ideal, por isso pensaram que o inglês deveria ser o mais parecido possível com o latim. Em latim, um infinitivo como 'to water' é uma única palavra; é impossível dividir. Então, hoje, 300 anos depois, ainda estamos aprendendo que frases como a (3) estão erradas, tudo porque alguém nos anos 1600 achava que o inglês deveria ser mais parecido com o latim.


Aqui está um último exemplo. Nas últimas décadas, surgiram três novas formas de relatar o discurso:


(4) So Karen goes, "Wow - I wish I'd been there!"


(5) So Karen is like, "Wow-I wish I'd been there!"


(6) So Karen is all, "Wow-I wish I'd been there!"


Em (4), 'goes' significa praticamente a mesma coisa que 'as said' (disse); é usado para relatar as palavras exatas de Karen. Em (5), significa que o orador está nos dizendo mais ou menos o que Karen disse. Se Karen tivesse usado palavras diferentes para a mesma ideia básica, (5) seria apropriado, mas (4) não seria. Finalmente, o 'all' em (6) é uma construção relativamente nova. Na maioria das áreas onde é usado, significa algo parecido, mas com emoção extra. Se Karen estivesse simplesmente relatando o tempo, não haveria problema em dizer: "She's like, são cinco horas". Por outro lado, seria estranho dizer: "She's is all, são cinco horas", a menos que houvesse algo empolgante em ser cinco horas.


É uma maneira preguiçosa de falar? De modo nenhum; a geração mais jovem criou três maneiras distintas, onde anteriormente só existia a palavra "said". A linguagem nunca vai parar de mudar; continuará a responder às necessidades das pessoas que a usam. Então, da próxima vez que uma nova frase irritar seus ouvidos, lembre-se de que, como tudo o mais na natureza, o idioma inglês é uma obra em desenvolvimento.
Para mais informações
Aitcheson, lean. 1991. Language Change: Progress or Decay? Cambridge: Cambridge University Press.
Bryson, Bill. 1991. Mother Tongue: The English Language. New York: Penguin Books.


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