segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Relação dos problemas que os linguistas ainda não resolveram

fonte da foto:Wikipédia

Relação dos problemas que os linguistas ainda não resolveram


Traduzido por Eduardo Rodrigues


A Linguística, como área de estudo, floresceu muito além do que seus fundadores imaginaram, provocando uma revolução cognitiva que começou nos anos 50 e se estende até hoje. Foi a linguística que nos proporcionou um aprendizado nunca antes experimentado sobre as línguas humanas, desde suas origens, por que existem tantas e como usar a linguagem para solucionar crimes. Além disso, a linguística nos forneceu informações bastante convincentes sobre a natureza da mente humana, como construir máquinas falantes, como treinar pessoas com dislexia para que possam ler, como reparar funções cerebrais que pertencem à linguagem etc. É uma façanha impressionante.
Há apenas um grande problema: os principais mistérios da linguagem que a linguística se propõe a desvendar continuam tão insondáveis quanto antes. Muitos problemas fundamentais da linguística ainda não foram resolvidos. Você ficaria surpreso ao saber quão pouco sabemos sobre questões importantes no estudo da linguagem. É disso que trata o presente artigo. Então, vamos a esses problemas ainda não resolvidos:

A aptidão da linguagem:

Nossa capacidade de aprender idiomas é de longe a propriedade que mais define a condição humana. Mas sabemos muito pouco sobre essa capacidade; não sabemos exatamente o que distingue a linguagem humana de outros sistemas de comunicação encontrados nas demais espécies. Parentes mais próximos dos humanos, como gorilas e chimpanzés, demonstraram uma notável capacidade de aprender e usar a linguagem de sinais. Em um experimento meticulosamente projetado, Koko, o gorila, foi capaz de aprender, ao longo dos anos, centenas de sinais e também a combinar muitos deles em frases. Um livro que detalha todas as etapas desse experimento pode ser encontrado aqui.
De forma semelhante, o canto dos pássaros e sua capacidade em adquirir e usar determinadas chamadas foram demonstrados para comprovar propriedades sintáticas notáveis. Um artigo científico fascinante que expõe essa capacidade pode ser encontrado aqui. Papagaios mostram uma habilidade notável de pronunciar uma grande variedade de sons humanos. As abelhas e suas danças também são algo interessante do ponto de vista linguístico. Se o reino animal é abundante em sistemas de comunicação comparáveis, de alguma forma, aos humanos, então, a diferença entre a nossa habilidade da fala e a de outras espécies é apenas qualitativa. A questão com a qual os linguistas se debatem é: O que distingue a linguagem humana dos sistemas de comunicação de outros animais?
A outra é: Quão especial é a linguagem? Existem aspectos da linguagem que são completamente únicos e distintos do restante do nosso sistema cognitivo, ou a linguagem é, em última instância, uma combinação especial das muitas funcionalidades de domínio geral que os seres humanos já possuem? Nós realmente não sabemos.

Aprendizagem de idiomas:

O modo como os adultos aprendem o idioma é bem difícil! Obviamente, a questão de como os bebês aprendem a língua é fundamental, mas como os adultos aprendem uma segunda ou terceira língua também é um quebra-cabeça intrigante. Eles usam, em menor escala, os mesmos mecanismos que os bebês ou aprendem um novo idioma de maneira diferente? Quais são alguns dos prenunciadores do sucesso na aprendizagem de idiomas por adultos?
O que é fluência? Fluência é um conceito fundamental em linguística, subjacente a muitas suposições, mas não acredito que exista uma definição operacional clara. Falamos coisas como “todo bebê podem se tornar fluente em qualquer idioma” ou, “crianças são fluentes em sua língua nativa aos 5 anos” e assim por diante, sem uma definição precisa do que significa fluência.

Modelando e medindo a linguagem:

Qual é o modelo ideal para reconstruir linguagens filogeneticamente? Ainda há muito debate sobre como as relações de linguagem (muitas vezes estruturadas como árvores) deveriam ser melhor construídas, uma vez que existem coisas na linguagem que de fato não existem na biologia evolutiva (a fonte das árvores linguísticas), como contato com a linguagem, empréstimos e assim por diante. Associar o tempo às árvores também é um grande quebra-cabeça controverso, tal como a idade da Indo-europeia.
Como podemos medir a complexidade do idioma? Novamente, um conceito-chave em linguística, mas sem uma definição operacional clara, impedindo-nos de responder se algumas línguas são mais complexas que outras. Tentativas de fazê-lo (por exemplo, J Nichols) são um grande passo adiante, mas claramente muito aquém de uma definição abrangente.

Idioma em contexto:

Quais são as interações entre linguagem, cultura e pensamento? Esta é uma das difíceis. Isso está parcialmente enquadrado pela hipótese Sapir-Worph, mas creio que a questão é muito maior. Como a linguagem influencia a cultura? A cultura pode influenciar o pensamento? Como os três interagem?

Linguagem e cérebro:

Essa é provavelmente a área de maior sombreamento na linguística. O “o que acontece no cérebro durante o exercício da linguagem?” é bem amplo, e pode ser dividido em perguntas mais detalhadas, como:
Como a linguagem é lateralizada no cérebro? Como os hemisférios esquerdo e direito interagem durante a produção e compreensão da linguagem? Existe redundância maciça para que as pessoas possam remanejar essas funções e se recuperarem de um acidente vascular cerebral?
Como reconhecemos as palavras? Como passamos de um sinal acústico para uma palavra, em particular quando se considera o quão empobrecido o sinal acústico possa ser? Quais são as respectivas funções dos fluxos de processamento dorsal e ventral no cérebro?
Qual é a função da Área de Broca? A área de Broca é realmente específica para sintaxe e, mais especificamente, movimento sintático, ou a área de Broca tem uma função cognitiva mais geral?


Quão modulares são as respectivas partes do cérebro que foram associadas a diferentes funções? Pesquisas anteriores sugeriram que certas partes do cérebro estão associadas a funções como a fala, reconhecimento de palavras, efeitos de cima para baixo no processamento da fala, sintaxe, fonologia, processamento de afetos emocionais na linguagem e assim por diante. Como essas diferentes regiões interagem e como são modulares em termos de realização de suas “tarefas”?
Essas parecem ser perguntas muito simples, mas suas respostas são muito difíceis e desafiam a ciência e tecnologia modernas. Talvez, ao ler isso, você aceite o desafio e inicie uma pesquisa e consiga responder algumas dessas perguntas, nunca se sabe! O futuro da linguística é alimentado por pessoas apaixonadas como você e eu. Com as ferramentas certas, podemos fazer maravilhas. Portanto, não deixe a paixão pela linguagem se extinguir dentro de você. Leve a tocha com punho de ferro e passe-a para outros com os mesmos punhos de ferro.
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Source:
http://thelanguagenerds.com/problems-still-unsolved-in-linguistics/?fbclid=IwAR0YlYIbqL6hfXUSo25igCklBs2uN3LstL5gVU1Bs9mhgPA12L6hd9iIqsM

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